Workshop mostra resultados da promoção da saúde mental nas unidades prisionais

Apresentar o resultado das ações desenvolvidas nas unidades penitenciárias do Pará durante o acompanhamento de Pessoas Privadas de Liberdade (PPLs) que apresentam transtornos mentais foi o principal objetivo do 1º Workshop “Boas Práticas Biopsicossociais em Saúde Mental”. O evento foi realizado no auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CDBS), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em Belém, e contou com palestras de diversos profissionais que trabalham diretamente na execução de projetos voltados a esse público específico.

Michelle Caroline Costa de Holanda, titular da Diretoria de Assistência Biopsicossocial (DAB) da Seap, disse que o evento foi uma oportunidade para a capacitação dos profissionais que atuam nas unidades. Ela explicou que a DAB trabalha a saúde mental ainda na prevenção, e também com aqueles que já apresentam transtorno mental.O evento foi realizado no auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Uepa O evento foi realizado no auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da UepaFoto: NCS / Seap

“Os profissionais, para trabalharem com esse público, têm que ter expertise. Eles têm que ter uma capacitação voltada a esse atendimento. A Seap tem dado muita importância a esse tema, a esta parte da saúde prisional que é a saúde mental. Esses eventos são muito importantes para quem trabalha dentro das unidades”, frisou Michelle de Holanda.

Em sua avaliação, a diretora da DAB ressaltou que o Workshop mostrou aos profissionais de todas as unidades que é possível realizar as oficinas e trabalhos de forma inovadora sobre o tema da saúde mental. Essa troca de experiência permite conhecer a realidade vivenciada por profissionais de municípios distantes da Região Metropolitana de Belém, que conseguem com criatividade desenvolver seu trabalho e apresentar resultados significativos.

“É uma experiência muito rica porque nós temos pessoas aqui de municípios do interior, que não têm essa cobertura da saúde mental. Eles realizam um trabalho excelente e fazem a diferença dentro do cárcere. A Seap tem se preocupado com essa capacitação dos profissionais, tem ofertado recursos para que a gente possa trabalhar nas unidades de forma segura e eficaz”, garantiu Michelle de Holanda.

Resultados – Sobre os trabalhos que vêm sendo realizados dentro das unidades, como as oficinas de arte e artesanato, e os acompanhamentos, a diretora da DAB informou que isso tem reflexos na diminuição da ingestão de medicamentos psicotrópicos, na aproximação com familiares, na condução do trabalho da equipe técnica, e até mesmo com os policiais penais.

“Nós envolvemos a segurança nesse trabalho, porque quando a gente trabalha a saúde mental no cárcere temos que trabalhar todos os atores pertencentes a ele. E essa forma de trabalhar a saúde mental voltada ao lúdico, com oficinas e terapias, tem sido muito positiva. Já está comprovada a diminuição das crises e de medicação, e a reaproximação desses pacientes com transtorno mental com suas famílias”, assegurou a gestora.

O secretário adjunto de Gestão Administrativa da Seap, coronel PM Luiz André Conceição Maués, participou da abertura do evento e destacou que o Workshop é uma forma de troca de conhecimentos, das experiências desenvolvidas na capital e no interior do Estado, para que se melhore ainda mais a atuação dos profissionais da DAB.

Mudanças – Luiz André Maués destacou ainda que a atual gestão da Seap promoveu mudanças na administração penitenciária, de conceitos e modo de tratar os internos e o servidor público. “Isso tudo (Workshop) nada mais é do que a preocupação do nosso secretário com o tratamento dispensado às pessoas com transtornos mentais. Essa parceria com a Uepa é um embriãozinho que está sendo formado aqui, e a tendência é que a gente expanda cada vez mais isso em outras áreas”, disse o secretário adjunto.

O juiz de Direito à frente da Vara de Execução Penal (VEP) da Região Metropolitana de Belém, Deomar Alexandre de Pinho Barroso, considerou o 1º Workshop como “fantástico”. Segundo ele, a Seap mudou e não está preocupada só em custodiar, com a invasão de presídio, motim e treinamento de força de elite.

“A Secretaria está preocupada agora com o cuidado da saúde mental, com as pessoas, com o policial penal e o preso. Agora é reinserção. Pra quem tem dúvida, a Seap já virou a chave. Tem procedimento, e vai ser mantido. Agora é reinserção, é trabalho, é educação, é cuidar da saúde mental, é outra Seap”, garantiu Deomar Barroso.

Arte Terapia – A terapeuta ocupacional Anisia Miranda da Silva Ribeiro atua na Unidade de Reinserção e Custódia de Paragominas (URC Paragominas), na região Sudeste, com o “Projeto Arte Terapia: Moldando o Inconsciente”. Ela trabalha com 20 internos, utilizando a técnica do biscuit e materiais recicláveis, incluindo marmitas de alumínio, sacolas plásticas e palitos de picolé nas atividades de artesanato com os internos. “O  foco é trabalhar esse grupo de pessoas e melhorar a saúde mental desses internos”, informou.

A realização do workshop, segundo Anisia Ribeiro, ajuda a ampliar a visão do que está sendo feito em outras unidades e por outros colegas de trabalho, o que revela potencialidades de trabalho, de ampliação e o conhecimento de dificuldades para melhorar o atendimento.

Sobre os resultados obtidos com o “Arte Terapia”, Anisia Ribeiro disse que tem observado principalmente a melhoria da qualidade de vida dos internos, em relação à saúde mental e valorização do projeto dentro da unidade prisional.

“O projeto gera uma mudança de visão da unidade. Da direção, do setor de segurança. A gente faz a realização desses trabalhos e começa a valorizar. Qual é a importância disso lá dentro? Os objetivos aparecem no comportamento deles, na diminuição das idas à enfermaria, entre outras coisas”, acrescentou a terapeuta ocupacional.

O Workshop, que teve 20 palestrantes, foi encerrado com a conferência “A importância da promoção de saúde mental no contexto de provação de liberdade no âmbito do sistema prisional”, ministrada por Marilda Nazaré Barbedo Couto, psicóloga da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e membro da Comissão Permanente dos Direitos da População em Privação de Liberdade, do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).

Texto: Márcio Sousa – NCS/Seap