Sespa: ”Projeto Dodói” ajuda crianças a compreender o câncer

 

O Projeto Dodói, uma iniciativa do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em colaboração com o Instituto Mauricio de Sousa e a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), tem como objetivo simplificar a compreensão das fases e procedimentos do tratamento contra o câncer. O projeto utiliza métodos lúdicos para auxiliar crianças e adolescentes, de 3 a 14 anos, recém-diagnosticados, a entender as demandas físicas e emocionais e todo o contexto que envolve a doença. Atualmente, a unidade, gerenciada pelo Instituto Diretrizes e sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), atende 822 pacientes.

O câncer infantojuvenil é um conjunto de doenças caracterizadas pela proliferação descontrolada de células anormais, podendo ocorrer em qualquer parte do corpo. Nessa faixa etária, os tumores mais comuns são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os tumores do sistema nervoso central e os linfomas (sistema linfático). Receber um diagnóstico de câncer é um choque para qualquer pessoa, mas pode ser ainda mais difícil de processar para crianças e adolescentes.

Nathália Diniz, psicóloga especialista em oncologia, destaca que a hospitalização é um processo muito delicado para a criança. Ela explica que a realização de procedimentos invasivos, a saudade de casa, dos amigos e dos animais de estimação, podem deixar a criança ansiosa e estressada. O acolhimento por uma equipe multidisciplinar é fundamental para ajudar a criança a se adaptar à nova realidade.

O Projeto Dodói busca esclarecer todo esse processo de adoecimento usando uma linguagem mais acessível. Sempre que o hospital recebe um novo paciente, as psicólogas entregam um Kit Dodói, que inclui um boneco da Turma da Mônica, revistas, jogos, cartilhas informativas, brinquedos e uma cartilha para os pais. É através do brincar que a criança entra em ‘contato’ com o tratamento.

Davi Caseiro, de 7 anos, estava tendo muita dificuldade em se adaptar ao ambiente hospitalar. Diagnosticado com osteossarcoma, Davi foi acolhido pelas psicólogas Nathália Diniz e Priscilla Fernandes na enfermaria do primeiro andar. Ele brincou de ser o médico de um dos personagens mais queridos do Maurício de Souza, o Cebolinha, que fazia parte do kit que recebeu. Ele ‘aplicou a injeção’, ‘escutou os batimentos cardíacos’ e perguntou o que o ‘paciente’ estava sentindo.

A mãe de Davi, Natália Caseiro, ficou aliviada com a presença da equipe, pois o filho não estava aceitando suas explicações sobre a necessidade de ficar hospitalizado. “Fiquei ansiosa esperando pela equipe, porque estava aflita com meu filho Davi. Ele não queria conversar comigo e com a nossa família, só dizia para deixá-lo dormir e ficar em paz. Mas quando as psicólogas chegaram, ele interagiu e até sorriu. Então estou grata por essa atenção diferenciada, pelos profissionais”, disse.

A equipe de psicologia é responsável por identificar os pacientes elegíveis para receber o kit. Para ser incluído no projeto, é necessário que o paciente tenha idade compatível e diagnóstico de câncer. O psicólogo apresenta o recurso para a criança, em seguida orienta o familiar a brincar com o paciente e fornece orientações sobre a realização das atividades.

Ao longo dos atendimentos, os itens do Kit Dodói são utilizados para estimular o paciente a expressar os sentimentos relacionados à experiência no hospital. As informações facilitam a assimilação, os jogos e as atividades interativas ajudam a trabalhar questões emocionais como autoimagem, medo e adaptação. “O brincar com esses itens favorece a expressão de sentimentos relacionados ao adoecimento, às terapias, e os pacientes ganham um companheiro (boneco) ao longo de todo esse processo”, conclui Nathália Diniz.