Organizações sociais de Outeiro indicam representantes para o comitê popular de mudanças climáticas


Laurene Ataíde, Edir Santos, João Vitor da Costa, Samily Maré, Edilena Souza, Graciete Nascimento, Joveliano Alves Martins, Rosilda Santana, Alessandra Sueli, Inaiá Paz, Domingos Oliaba, Karoline Raiol, Mariluz Mariano, Maria Sueli e Fernando Maia são as lideranças populares que tiveram seus nomes indicados para o Comitê Popular de Mudanças Climáticas de Caratateua, popularmente conhecida em Belém como ilha de Outeiro.

As 15 lideranças comunitárias da ilha tiveram nomes apresentados na II plenária distrital de Belém sobre mudanças climáticas em preparação à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que ocorrerá em Belém em 2025. O comitê popular deverá promover e incentivar a participação da população na construção da COP-30 e atuar na elaboração do plano de ação climática do município e, a longo prazo, incidir nas propostas do plano diretor, que é o planejamento urbano com vistas numa cidade com estrutura mais resiliente, sustentável e democrática.

A segunda plenária para criação do comitê popular da COP-30 ocorreu em Caratateua nesta segunda-feira, 8, na Fundação escola Bosque (Funbosque), organizada pela Prefeitura de Belém, sendo coordenada pela Universidade Livre da Amazônia (Ulam), vinculada à pelas Secretaria Municipal de Administração (Semad); e Fórum Municipal sobre Mudanças Climáticas. A agência distrital de Outeiro, representada por Franklin Barbosa, e lideranças dos movimentos sociais participaram dos momentos de debate e escuta da população sobre os impactos da crise climática e sobre soluções sustentáveis para a ilha.

Laurene da Costa Ataíde (dona Laurene), mestra de cultura e coordenadora do Pássaro Colibri do Outeiro, é uma referência cultural na ilha. Na abertura da plenária afirmou: “estamos felizes por em saber que a ilha acolhe essa atividade, que tem como tema um evento que vai mover o mundo, a Cop-30. O povo da ilha de Caratateua vai participar e os nossos espaços de cultura estão abertos para dizer como a cultura local faz a diferença na construção desse evento mundial”.

Lideranças de diversas áreas sociais da ilha de Outeiro, como do movimento de luta pela moradia, dos povos tradicionais de matriz africana, da agricultura familiar e da educação ambiental participaram dos debates na plenária.

Formação – A Funbosque, escola de referência para a comunidade da ilha, ocupou um lugar na mesa de abertura para reafirmar a necessidade de formação no processo de participação popular. “Somos uma escola de referência para esse território, porque realizamos ações, a partir das práticas da comunidade, afinal essa fundação é fruto da luta comunitária”, destacou o presidente da Fundação, professor Laurimar Farias.

Segundo ele, a Funbosque, ao que diz respeito à Cop-30, está ofertando cursos de qualificação para agentes comunitários e vai implementar uma formação específica para a gastronomia, com foco na culinária regional, discutindo oportunidades de renda e oportunidades que a gastronomia abre como atrativo turístico da ilha, e com ênfase na segurança alimentar para populações locais”.

O Instituto Federal do Pará (IFPA), que trabalha em cooperação com a Prefeitura/Ulam e Fórum, está atuando em várias frentes de formação e qualificação técnica. O professor Daniel Palheta, representando o IFPA na plenária, anunciou a abertura de uma turma de aquicultura para comunidade da ilha como valorização do potencial pesqueiro do território e das habilidades da população nesse campo da atividade de cultura alimentar.

Belém rumo à Cop-30 
A arquiteta e urbanista da Semad/Ulam, Catarine Saunier, fez a exposição sobre a temática das mudanças climáticas, destacando algumas iniciativas da Prefeitura, visando um plano de atuação do poder público a longo prazo, citando obras de infraestrutura, em Outeiro. Entre elas, as obras de reforma da Escola de Pesca; o projeto de Quintais Ecológicos, desenvolvidos pela Funbosque; reformas de escolas, como Itaiteua, um território onde vive parte da comunidade indígena da ilha, além de obras de drenagem e pavimentação em curso, como na Franklin de Menezes e ampliação prevista nos equipamentos e cobertura do atendimento de saúde pelo programa Saúde da Família.

Problemas urbanos, como ondas de calor, emissão de gases poluentes, extração florestal, fenômenos de migrações urbanas, impactos das enchentes e expansão imobiliária no território e os impactos nas atividades econômicas, como na agricultura familiar, questões de mobilidade específicas da ilha, estiveram na pauta da plenária.

“Estamos criando momentos de participação social popular, para apresentar soluções conjuntas e agregar aos fatores técnicos apresentados pela Prefeitura e Fórum, visando um plano de ação climática que avance para além da COP e faça diferença na vida das pessoas”, destacou Catarine.

Lideranças comunitárias de vários bairros de Caratateua apontaram os problemas mais recorrentes e históricos da ilha que afetam a população, os quais se agravaram paulatinamente com as mudanças climáticas. Entre eles, desmatamento da cobertura vegetal, coleta e tratamento de resíduos precários, escassez de transporte que atenda às comunidades da ilha, necessidade de expandir educação ambiental nas escolas e para a comunidade, falta de fomento à criação de cooperativas e agricultura familiar e hortas comunitárias e falta de fiscalização sobre construção de empreendimentos imobiliários que afetam os mananciais e as comunidades tradicionais indígenas e de matriz africana.

“Estamos aqui para discutir pertencimento, fazer que a população de Caratateua tenha não só uma orla para agradar ao turista, mas, principalmente, gerar renda, trabalho, dignidade às populações locais, preservando a qualidade das águas dos rios e igarapés e o reflorestamento da ilha, mantendo as praias limpas com trabalho permanente de conscientização de cuidado ambiental. Discutir o futuro da ilha passa por discutir dignidade para essa população”, ressaltou o professor Edir Santos, do bairro da Basília.