O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), apresentou oficialmente recentemente (12/05), em São Paulo, o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia. Direcionado a representantes do setor privado, acadêmico e do terceiro setor, o evento marcou uma etapa estratégica de preparação para a COP30, que será realizada em Belém, em novembro de 2025 – mesma cidade onde o Parque será sediado.
Com 75% das obras concluídas, o Parque foi concebido como um polo tecnológico e produtivo para transformar o potencial da bioeconomia amazônica em oportunidades reais de desenvolvimento sustentável. O projeto alia inovação, valorização da floresta e geração de valor econômico e social.
“Nenhum negócio existe isoladamente. O Parque nasce com essa visão sistêmica, como um ecossistema completo de apoio, integração e aceleração. Ele é ‘bio’, porque valoriza a floresta e os saberes dos povos; e é ‘economia’, porque gera renda e desenvolvimento”, destacou o secretário de Meio Ambiente, Raul Protázio Romão.
Legado da COP30 e modelo autossustentável
A secretária adjunta de Bioeconomia da Semas, Camille Bemerguy, apresentou o Parque como uma das principais ações estruturantes do Plano Estadual de Bioeconomia, o primeiro do Brasil, com 122 ações em andamento – mais de 20% já executadas.
“O Parque foi planejado para ser autossustentável, com governança multissetorial e operação gerida por instituições privadas especializadas. Ele funcionará como um grande acelerador de bionegócios, apoiando produtos e serviços florestais de alto valor agregado”, explicou.
Instalado em dois galpões no Porto Futuro II, em Belém, o espaço contará com um laboratório-fábrica para prototipagem de soluções bioeconômicas e um centro de negócios com serviços como planejamento estratégico, assessoria jurídica, branding e conexões com investidores.
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“Mais importante que a estrutura física é a inteligência por trás dela. O Parque tem função, tem estratégia, tem objetivo. E está pronto para inspirar outros ecossistemas”, completou Raul Protázio.
Engajamento com o setor privado
Durante o evento, o governo apresentou o modelo de parceria com empresas privadas, que poderão participar desde a fase fundacional. Executivos de companhias como Nestlé, Mercado Livre e Carrefour Brasil participaram de um momento de networking com a equipe do projeto.
Patrícia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale, reforçou o potencial econômico da biodiversidade amazônica. “Estamos agregando valor a espécies como açaí, cacau e mandioca. O cacau da Amazônia já tem a tonelada mais valorizada que a do níquel. A floresta pode — e deve — ser vetor de uma nova economia baseada em ciência e respeito aos povos originários”.
Já o presidente da ASSOBIO, Paulo Monteiro, destacou o impacto do Parque na cadeia produtiva da sociobioeconomia. “O diferencial é poder testar e desenvolver produtos antes de construir uma fábrica. Isso reduz riscos e atrai investidores para apoiar as próximas startups da Amazônia”.
Referência internacional
Encerrando o evento, Raul Protázio reforçou o papel do Parque como símbolo de uma nova visão de desenvolvimento para a região.
“Esse é um ponto de partida. Estamos criando as condições para uma nova economia na Amazônia. Daqui a cinco ou dez anos, queremos ouvir: ‘nos inspiramos no ecossistema de inovação do Pará’. Esse é o nosso compromisso.”
Uma das finalidades é que o espaço seja um local de divulgação do modelo econômico e também a base de um ecossistema de apoio aos negócios. Empresas como a de Izete Costa, conhecida como dona Nena, que produz chocolate e outros derivados do cacau, na Ilha do Combu.
Ribeirinha, nascida na comunidade Igarapé de Piriquitaquara, filha de agricultores, dona Nena cresceu percorrendo o Rio Guamá com os pais para comercializar o cacau nativo na parte continental de Belém. Com o passar dos anos, a mudança no clima e a acrescente demanda por outras culturas, a empresária viu uma diminuição dos cacaueiros na região.
Preocupada com a persistência do fruto na ilha e em busca de valorização desse recurso natural, dona Nena iniciou uma busca pela melhor forma de beneficiar o cacau e agregar valor à produção local. De forma artesanal, passou a produzir chocolates, a partir do que era plantado e colhido em seu quintal e nos dos vizinhos.
Em 20 anos de trabalho, a empresa de dona Nena beneficia hoje 16 famílias, que, como ela, vivem do manejo sustentável da Floresta Amazônica, sem precisar desmatar ou deixar a região em busca de outras oportunidades.
Essas famílias têm acesso à água potável por meio de um sistema de captação da chuva, e o beneficiamento do cacau também financiou melhores condições de saneamento e infraestrutura para receber turistas, que fortalecem a cadeia produtiva sem a necessidade de atravessadores.
A empresária tem muito orgulho desse trabalho, que permite a conservação do bioma, mas destaca que ainda não é uma realidade para o restante da região.
Texto: Jamille Leão – SEMAS
Fotos: Divulgação, Fabiola Sinimbú/Agência Brasil