Um grupo de organizaรงรตes, que conta, no Brasil, com o Instituto de Estudos Socioeconรดmicos (Inesc) como representante, lanรงou hoje (23) um estudo que destaca que, em 2022, os paรญses do G20 aplicaram US$ 1,4 trilhรฃo para apoiar combustรญveis fรณsseis. No relatรณrioย Fanning the Flames: G20, as instituiรงรตes sublinham que o valor equivale a mais do que o dobro do investimento feito antes da pandemia de covid-19 e da crise energรฉtica de 2019 e como algo que vai na contramรฃo de polรญticas ambientais e sociais.
O G20 รฉ um grupo formado pelos ministros de finanรงas e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a Uniรฃo Europeia. Foi criado em 1999.
O montante indicado considera subsรญdios destinados a combustรญveis fรณsseis – US$ 1 trilhรฃo -, investimentos de empresas estatais – US$ 322 bilhรตes – e emprรฉstimos de instituiรงรตes financeiras pรบblicas – US$ 50 bilhรตes. Na leitura das instituiรงรตes, os membros do G20 fariam bem ao deixar de lado os benefรญcios fiscais ร indรบstria de petrรณleo, carvรฃo e gรกs, porque, em seus cรกlculos, ganhariam US$ 1,4 trilhรฃo e US$ 1 trilhรฃo adicional ao impor taxas ao segmento, cobrando entre US$ 25 a 50 para cada tonelada de CO2 [diรณxido de carbono] emitida na atmosfera.
Combustรญveis fรณsseis
Os autores do estudo recomendam que os membros do G20 estabeleรงam um prazo claro para eliminar os subsรญdios aos combustรญveis fรณsseis – 2025 para paรญses desenvolvidos – e atรฉ 2030 para economias emergentes – caso queiram cumprir o compromisso assumido em 2009 de reformar os subsรญdios.
As entidades que assinam o documento sustentam que empresas estatais constituem uma das chaves para se recalcular a rota da energia, no caso do G20. Em relaรงรฃo a isso, o que se propรตe รฉ que os governos estabeleรงam prazos para que as estatais adotem metas de zero emissรตes lรญquidas e busquem encontrar alternativas de negรณcios e carteiras de emprรฉstimos.
O relatรณrio dรก o exemplo da รndia como um paรญs que tem progredido. O paรญs do sul da รsia conseguiu diminuir em 76% os subsรญdios destinados a combustรญveis fรณsseis, no perรญodo de 2014 a 2022, apostando, simultaneamente, na energia limpa.
Energia limpa
Livi Gerbase, assessora polรญtica do Inesc, ressalta que os paรญses que integram o G20 cobram menos impostos sobre combustรญveis fรณsseis em comparaรงรฃo a outros emissores de CO2, uma mรฉdia de apenas US$ 3,2 por tonelada de CO2 emitido.
A prรกtica perdura mesmo com as empresas de carvรฃo, petrรณleo e gรกs tendo registrado lucros recordes no ano passado, no contexto da crise energรฉtica. A especialista defende que os paรญses procurem formular polรญticas que corrijam desnรญveis e que sejam feitas para os mais pobres, alรฉm da priorizaรงรฃo de fontes de energia renovรกvel e limpa, para que haja transformaรงรตes e se abandone, gradualmente, a dependรชncia da matriz energรฉtica que hoje prepondera.
“Esses nรบmeros que a gente estรก divulgando sรฃo muito importantes para se entender que temos um desafio muito grande na transiรงรฃo energรฉtica global. A guerra entre Ucrรขnia e Rรบssia, principalmente, levou a um aumento no preรงo, em 2022, e a resposta do governo, em grande parte, foi de aumentar os subsรญdios para evitar que a populaรงรฃo nรฃo sentisse esses impactos, mas isso tambรฉm significou um aumento muito grande de lucro para as empresas petroleiras”, afirmou Livi, em entrevista ร ย Agรชncia Brasil.
Recursos
No Brasil, o fomento aos combustรญveis fรณsseis foi de R$ 118,2 bilhรตes em 2021, um valor prรณximo ao registrado no ano anterior. Para 2022, estima-se que a quantia seja maior, tendo em vista que se zeraram as alรญquotas do Programa de Integraรงรฃo Social (PIS), da Contribuiรงรฃo para o Financiamento da Seguridade Social ย (Cofins), do PIS-Importaรงรฃo e da Cofins importaรงรฃo sobre combustรญveis fรณsseis.
Caso optassem por uma reforma nas polรญticas de subsรญdios e pela tributaรงรฃo do carbono, o fรณrum poderia reservar menos de um quarto dos US$ 2,4 trilhรตes gerados ร energia eรณlica e solar – US$ 450 bilhรตes por ano atรฉ 2030. A medida contribuiria para o objetivo de se limitar o aumento da temperatura global a 1,5ยฐC, se pudessem angariar verbas de investidores privados.
Os recursos sugerem ร s instituiรงรตes que produziram o relatรณrio tambรฉm poderiam ser usados em aรงรตes de combate ร fome no mundo (US$ 33 bilhรตes/ano), fornecendo acesso universal ร eletricidade e ร culinรกria limpa no planeta, de forma alinhada com emissรตes lรญquidas zero (US$ 36 bilhรตes/ano). Tal escolha iria ao encontro da promessa que os paรญses desenvolvidos fizeram quanto a se mobilizar em favor das naรงรตes em desenvolvimento (US$ 17 bilhรตes/ano) no รขmbito do financiamento climรกtico.