Estudo revela que a presença humana não ameaça a fauna local, mas destaca a necessidade de estratégias de manejo sustentáveis
Um estudo recente publicado na revista Biological Conservation revelou que a presença de comunidades ribeirinhas e tradicionais em reservas extrativistas da Amazônia Legal não representa uma ameaça para espécies de aves e mamíferos frequentemente caçadas para subsistência. No entanto, o estudo sugere a implementação de estratégias de manejo para minimizar os impactos negativos da caça de subsistência.
O estudo, realizado pelo analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ricardo Sampaio, utilizou 720 armadilhas fotográficas em 100 comunidades locais, dentro e fora de nove áreas protegidas de uso sustentável na região centro-oeste da Amazônia brasileira. Os resultados mostraram que a redução da “abundância” (uma espécie de contagem do número de indivíduos das espécies) ocorre até 5 quilômetros de distância a partir das comunidades humanas.
Em áreas onde a população desenvolve ou tem acesso a manejo sustentável de pescados, como é o caso do pirarucu na região do Médio Purus e do rio Juruá, no Estado do Amazonas, a tendência é de redução da pressão de caça sobre as espécies terrestres.
“O principal resultado do trabalho é que o fator mais relevante para alterar a diversidade, a abundância e a biomassa das espécies é a distância em relação à comunidade. Mesmo assim, detectamos que as comunidades humanas têm um impacto reduzido na biodiversidade, desmistificando algumas discussões que questionam o papel de unidades de conservação de uso sustentável para a proteção da biodiversidade. O manejo de base comunitária da fauna pode ser um caminho para garantir a segurança alimentar dessas pessoas, além de proteger a biodiversidade”, diz Sampaio.
Os resultados foram publicados em meio à retomada do protagonismo da Amazônia nas questões ambientais e do lançamento da Declaração de Belém, que estabelece entre seus pontos o “aumento das reservas de vegetação nativa mediante incentivos financeiros e não financeiros e outros instrumentos para a conservação”.
“Resultados práticos, como os que obtivemos na pesquisa, ajudam a criar ambientes de discussão e processos institucionais para lidar com um tema que é tabu no Brasil – a caça de subsistência. Agora o desafio é sensibilizar os gestores sobre esses resultados e trazê-los para a prática”, avalia Sampaio.
A pesquisa de Sampaio é um marco importante na compreensão do impacto das comunidades humanas na biodiversidade da Amazônia. Ela destaca a necessidade de estratégias de manejo eficazes e sustentáveis para garantir a proteção da fauna e flora locais, ao mesmo tempo em que assegura a subsistência das comunidades ribeirinhas e tradicionais. A caça de subsistência, embora seja um tema tabu, é uma realidade nessas comunidades e precisa ser abordada de maneira responsável e informada.
Em última análise, o estudo reforça a importância do equilíbrio entre a conservação da biodiversidade e as necessidades humanas. A coexistência harmoniosa entre as comunidades humanas e a vida selvagem é possível, mas requer esforços contínuos, pesquisa e diálogo aberto. A pesquisa de Sampaio e seus colegas é um passo significativo nessa direção, fornecendo dados valiosos e insights que podem informar políticas futuras e práticas de manejo na região da Amazônia Legal.