Belém recebeu nesta quarta-feira, 1º de outubro, um encontro especial entre cinema, memória e reflexão sobre a Amazônia. O Museu da Imagem e do Som (MIS) promove mais uma edição do CineClubeMIS, desta vez com a presença do cineasta francês Frédéric Létang, que apresentará dois de seus documentários no Auditório Eneida de Moraes. A programação é gratuita e começa às 18h30, com classificação indicativa de 12 anos.
A noite se inicia com a exibição de “A Terra e a Pena, 88” (La terre et la peine), filme lançado em 1997. A obra mergulha no cotidiano de uma comunidade amazônica que enfrenta a pressão da grilagem de terras e luta para preservar seu direito ao território e à vida digna. Létang acompanha essa resistência com um olhar sensível, revelando as tensões entre a violência fundiária e a resiliência dos moradores.
Logo em seguida, às 20h, será apresentado “Amazônia, Luzes e Sombras, 90”, um retorno do cineasta à mesma comunidade 25 anos depois. A proposta é revisitar personagens e histórias do primeiro documentário, observando como o tempo transformou pessoas, famílias, geografia e relações sociais. É um testemunho raro sobre a permanência e a mudança no coração da floresta, revelando tanto as marcas deixadas pelas políticas ambientais e sociais quanto a força de quem insiste em permanecer.
Após as sessões, o público terá a oportunidade de participar de um bate-papo com Frédéric Létang, em diálogo mediado por Indaiá Freire, jornalista e diretora do MIS. O encontro busca aprofundar os temas levantados pelos filmes e aproximar o público do processo criativo do diretor, reconhecido por seu estilo de observação atento e pela capacidade de traduzir em imagens questões complexas.
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Segundo Indaiá, os dois documentários oferecem uma rara possibilidade de acompanhar, ao longo de décadas, os impactos do desmatamento, as transformações do território e a vida das populações ribeirinhas e agricultores. “O primeiro filme retrata uma comunidade impactada pela grilagem e sua resistência para manter o direito de moradia. No segundo, 25 anos depois, Létang retorna para entender o que mudou: as famílias, os filhos, os parentes, o espaço geográfico, as ações sociais que surgiram. É uma leitura profunda de permanências e rupturas”, explica.
O trabalho de Frédéric Létang é marcado por uma abordagem que combina rigor documental e sensibilidade artística. Seus filmes não apenas informam, mas convidam à reflexão sobre como processos políticos e ambientais repercutem na vida cotidiana. O vínculo contínuo do cineasta com a Amazônia mostra seu compromisso com temas locais, tratando a floresta não como paisagem exótica, mas como espaço de vidas reais, lutas concretas e histórias em movimento.
O CineClubeMIS, organizado pelo Governo do Pará, integra as ações culturais da Secretaria de Estado de Cultura (Secult). O projeto busca oferecer ao público paraense a chance de acessar obras relevantes da produção audiovisual nacional e internacional, sempre em diálogo com cineastas, críticos e pesquisadores. Ao ocupar o Auditório Eneida de Moraes, o evento reforça a proposta de democratizar o cinema como espaço de troca e pensamento coletivo.
Com entrada gratuita, o evento desta noite promete mais que uma exibição: é uma oportunidade de revisitar a Amazônia por meio do olhar estrangeiro de quem escolheu compreender a floresta em profundidade. Entre imagens e memórias, o público terá acesso a um retrato poderoso da luta pela terra, da resistência das comunidades e da transformação de um território que continua a definir o futuro do planeta.