Belém, outubro de 2025 – Em Belém, nasce um novo polo de inovação que une floresta, cultura e negócios. A Casa Niaré abre suas portas na Rua Bernal do Couto, 791, no bairro Umarizal, como espaço multifuncional dedicado a fortalecer o empreendedorismo indígena e de comunidades tradicionais da Amazônia, conectando saberes ancestrais com ética, sustentabilidade e formas regenerativas de economia. O projeto se apresenta como um dos legados concretos esperados da realização da COP30.

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Idealizada por redes e coletivos amazônicos, a Casa Niaré pretende servir a múltiplas funções: centro de formação, mentoria, coworking, loja, galeria de arte, café funcional e espaço para eventos. Sua missão vai além de oferecer infraestrutura: busca ativar um ecossistema de negócios na floresta, regenerativo e sociobioeconômico, em que os protagonistas sejam justamente quem vive a floresta, e não agentes externos.

Estrutura para inovação na floresta

O projeto oferece três espaços principais:

  • Café Funcional da Floresta + Espaço para Eventos: Produtos autenticamente amazônicos serão oferecidos por baristas, chefs indígenas e convidados, e o local funcionará também como palco para exposições culturais e encontros corporativos.

  • Loja e Galeria de Produtos e Arte dos Povos da Floresta Amazônica: Serão apresentadas artes, moda e artesanato de mais de 60 iniciativas comunitárias, com curadoria da Tucum Brasil em parceria com Urucuna e Da Tribu.

  • Sala de Trabalho para Negócios da Floresta (Coworking + Mentoria): O espaço de coworking vai acolher empreendedores indígenas e comunitários, formando um grupo inicial de até 10 pessoas que percorrerá, ao longo de um ano, jornadas práticas de gestão de negócios, comercialização, comunicação, certificações e acesso a investidores.

Organizações que impulsionam o hub

A Casa Niaré nasce de articulações coletivas. Dentre os idealizadores e parceiros:

  • Mazô Maná, empresa de impacto que valoriza povos da floresta por meio de produtos de nutrição funcional e práticas socioambientais. É uma iniciativa que alia ciência, inovação e cultura indígena. Amaz+2RedePará+2

  • Urucuna, que trabalha combinando saberes ancestrais com inovação para regenerar floresta e fortalecer autonomia territorial. RedePará

  • Da Tribu, marca de moda amazônica de Belém que produz joias orgânicas e biomateriais a partir da borracha nativa, atuando nos mercados B2B e B2C. RedePará

  • A gestão financeira será apoiada por Impact Not a Bank, organização comprometida com transparência, eficiência e impacto socioambiental em projetos de floresta. impactnotabank.com.br+1

Há também uma rede extensa de organizações comunitárias parceiras, vindas de diferentes estados amazônicos (Pará, Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, Roraima), o que demonstra a intenção da Casa de fazer parte de um movimento territorial de base.

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Inovação na prática: economia da floresta, sociobioeconomia e autonomia

Casa Niaré não é apenas um espaço físico, mas uma aposta em inovação social e cultural. Ela busca redesenhar os modelos de negócio existentes, propondo:

  • que os produtos desenvolvidos pelas comunidades da floresta atinjam mercados com melhor valor agregado, com valorização estética, curadoria e transparência de processos;

  • que a certificação, comercialização, comunicação e relações com investidores sejam acessíveis aos empreendedores indígenas/comunitários;

  • que o café, a loja e eventos culturais sejam vetores de difusão, visibilidade e economia para as comunidades, não apenas para o centro urbano;

  • que modelos de renda e autonomia territorial sejam baseados no respeito aos saberes ancestrais, com sustentabilidade ambiental e justiça social.

Importância institucional e simbólica

Como legado da COP30, a Casa Niaré representa algo raro: um compromisso visível, local, imediato, que pode demonstrar como uma grande conferência internacional se traduz em ação concreta no território. É uma extensão da narrativa de sustentabilidade, mas também de soberania cultural: quem vive na Amazônia participa das decisões, das inovações, dos mercados, das narrativas.

Também é uma resposta às críticas frequentes de que projetos de desenvolvimento amazônico tendem a ser concebidos fora da floresta, centralizados em capitais e em atores externos. Aqui, a proposta é inversa: dar estrutura para que lideranças indígenas e tradicionais sejam empreendedoras por vocação, não por exceção.

Desafios e perspectivas

Há desafios evidentes: garantir acesso a financiamento justo, transparência continuada, assistência técnica sensível às realidades culturais, burocracia que respeite modos de vida e ritos, mercados que absorvam produtos com qualidade, logística na Amazônia, certificação justa, políticas públicas de apoio.

Também será necessário equilibrar ritmo de crescimento com cuidado ecológico: regenerar, preservar e produzir precisam caminhar juntos. Se a urgência é real, a pressa não pode sacrificar cultura, território ou biodiversidade.

Legado possível

Se bem-sucedida, a Casa Niaré poderá se tornar referência nacional e internacional de como se constrói um ecossistema de negócio amazônico regenerativo, eticamente embasado, economicamente justo e culturalmente respeitoso. Um espaço que exponha, mais do que discursos, capacidades reais dos povos da floresta, e que mostre que a Amazônia não é apenas objeto de preservação, mas de protagonismo.