A Polícia Civil do Pará realizou, nesta terça (25) e quarta-feira (26), o I Simpósio de Políticas Antirracistas e Segurança Pública, um encontro dedicado a discutir como o enfrentamento ao racismo deve fazer parte da rotina institucional e das práticas de segurança no estado. O evento, sediado no auditório Delegada Ione Coelho, foi organizado pela Academia de Polícia (Acadepol) em parceria com a Diretoria de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAV), integrando as ações alusivas ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.

Foto: Jeniffer Terra - Ascom PC

Mais do que cumprir um calendário simbólico, o simpósio representa um movimento intencional da instituição em reconhecer que o racismo estrutura desigualdades e afeta diretamente a relação entre polícia e sociedade. Ao enfatizar a importância de formações específicas sobre o tema, a delegada Daniela Oliveira, diretora da Acadepol, ressaltou que compreender a história e os mecanismos de reprodução do racismo é condição básica para garantir uma atuação policial ética, justa e alinhada aos princípios dos direitos humanos.

Segundo a delegada, a adoção de políticas de formação contínua contribui para fortalecer a confiança entre população e forças de segurança, especialmente entre grupos que historicamente enfrentam maior vulnerabilidade. Ao qualificar seus servidores, a instituição busca aperfeiçoar tanto o atendimento cotidiano quanto a capacidade de identificar situações de violência racial, que muitas vezes passam despercebidas sem preparo específico.

Foto: Jeniffer Terra - Ascom PC
Foto: Jeniffer Terra – Ascom PC

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A programação do simpósio reuniu servidores estaduais e representantes da sociedade civil, criando um ambiente de troca entre diferentes perspectivas. Na abertura, o evento recebeu o Pai Denilson D’Oxaguiãn, gerente estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEIRDH). Ele destacou que o letramento racial não é um exercício teórico, mas uma ferramenta prática que orienta o funcionamento do Estado, especialmente nos serviços que lidam diretamente com situações de violência e discriminação.

Em sua fala, Denilson reforçou que a população negra não é homogênea e enfrenta vulnerabilidades diversas: jovens em periferias expostos à violência cotidiana; mulheres negras afetadas por desigualdades acumuladas; pessoas negras LGBTQIA+ que ainda lidam com discriminações múltiplas; e pessoas negras com deficiência, frequentemente invisibilizadas nas políticas públicas. Para cada uma dessas realidades, a presença de servidores preparados e sensíveis ao tema pode representar a diferença entre um atendimento qualificado e a reprodução de novos ciclos de violência.

A organização do simpósio reforçou que o racismo ultrapassa comportamentos isolados e se manifesta como um fenômeno estrutural, reproduzido nas instituições, nas relações de poder e nos serviços públicos. Por isso, o combate ao racismo dentro da segurança pública exige mais do que respostas pontuais: requer revisões de protocolos, atualização de abordagens, formação continuada e um ambiente que reconheça as especificidades de quem procura ajuda.

Ao promover espaços de diálogo e escuta, o evento procurou aproximar teoria e prática, incentivando servidores a refletirem sobre suas experiências cotidianas e sobre como o racismo aparece nos atendimentos, muitas vezes de forma naturalizada. A troca entre especialistas e profissionais também permitiu identificar caminhos para implementar políticas antirracistas de forma concreta, seja no acolhimento de vítimas, na coleta de informações, no registro de ocorrências ou na mediação de conflitos.

O I Simpósio de Políticas Antirracistas e Segurança Pública se firma, assim, como um passo estratégico da Polícia Civil do Pará rumo a um modelo de segurança mais atento às desigualdades raciais e mais capaz de enfrentá-las. Ao reconhecer o racismo como um componente estrutural da sociedade, a instituição assume o compromisso de transformar suas práticas e fortalecer um atendimento baseado em dignidade, respeito e cidadania. É um movimento que ultrapassa a formação técnica: trata-se de repensar a própria missão da segurança pública e suas responsabilidades na construção de uma sociedade menos desigual.