Entre julho e setembro de 2025, o Pará viveu uma transformação significativa na forma de enfrentar o fogo em seu território. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontaram uma queda histórica de 85% nos focos de queimadas em relação ao mesmo período do ano anterior — um feito que consolidou o estado como referência em políticas públicas de prevenção e combate a incêndios florestais na Amazônia.

Rodrigo Pinheiro/ Ag. Pará

No trimestre, foram registrados 4.929 focos contra os 33.931 contabilizados em 2024. A drástica redução não foi resultado do acaso: ela expressa a consolidação do programa Pará Sem Fogo, lançado pelo governador Helder Barbalho, e simboliza uma virada de página na gestão ambiental do estado. O programa foi criado com o objetivo de unir ciência, tecnologia, mobilização comunitária e políticas integradas para conter um problema histórico da região: as queimadas provocadas por ação humana, agravadas pelas mudanças climáticas.

Um modelo baseado em ciência e prevenção

O Pará Sem Fogo foi estruturado em quatro eixos centrais: monitoramento em tempo real, prevenção com base científica, resposta rápida e capacitação de brigadas locais. A metodologia prevê a criação de um Centro Integrado Multiagências, que reúne o Corpo de Bombeiros Militar do Pará, órgãos ambientais, setores agropecuários e grupos comunitários sob um mesmo comando operacional. Essa integração permite que as respostas sejam imediatas e coordenadas, evitando que pequenos focos se transformem em incêndios de grandes proporções.

Além da infraestrutura tecnológica, o programa tem como diferencial o envolvimento direto das comunidades. Brigadas voluntárias foram capacitadas para atuar no combate e na prevenção, fortalecendo a presença do Estado em áreas mais vulneráveis e de difícil acesso.

O governador Helder Barbalho destacou que o sucesso da estratégia reflete um novo pacto entre o poder público e a população. “O Pará está mostrando que é possível proteger a floresta e garantir desenvolvimento com responsabilidade ambiental. A queda nos focos de queimada comprova que políticas planejadas, baseadas em ciência e parceria, são o caminho para um futuro sustentável”, afirmou.

Rodrigo Pinheiro/ Ag. Pará
Rodrigo Pinheiro/ Ag. Pará

SAIBA MAIS: Vozes do Pará na COP30: inscrições abertas para o Pavilhão

Resultados expressivos e resposta integrada

O impacto das medidas é visível nos números. Somente nos meses de agosto e setembro, o estado registrou 1.273 e 2.853 focos, respectivamente — uma redução drástica quando comparada aos 13.677 e 17.079 observados em 2024.

Para o secretário de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade, Raul Protázio Romão, os dados demonstram a eficácia de um trabalho coordenado e permanente. “Essa redução reflete o fortalecimento da gestão ambiental e a ampliação da presença do Estado nos municípios. O programa melhora nossa capacidade de resposta e protege a floresta, a fauna e as comunidades”, observou o secretário.

A queda também coincide com a adoção do Decreto Estadual nº 4.868, que instituiu o estado de emergência ambiental e climática por 180 dias. O decreto ampliou os recursos e mecanismos de atuação do governo, permitindo mobilização rápida em situações de risco e reforço de equipes em campo.

A convergência entre clima, tecnologia e política pública

Embora as condições climáticas mais amenas tenham contribuído para o resultado, especialistas e gestores apontam que o fator decisivo foi a combinação entre tecnologia e ação integrada. As operações de monitoramento utilizam dados do Inpe e de satélites próprios do Estado, permitindo vigilância constante das áreas críticas.

Essa nova lógica de governança ambiental faz parte de um esforço mais amplo de preparação para a COP30, que será sediada em Belém em 2025. O evento global reforça o compromisso do Pará em demonstrar, na prática, que é possível promover uma economia baseada na floresta em pé.

O Pará Sem Fogo emerge, assim, como um símbolo desse novo momento: uma política de Estado que alia prevenção, transparência e responsabilidade climática. O desafio agora é manter a tendência de queda e consolidar o modelo como referência para outros estados da Amazônia Legal.

Com a floresta mais protegida, menos fumaça no ar e comunidades mais preparadas, o Pará começa a traduzir em resultados concretos o discurso global pela preservação ambiental. A mensagem é clara: quando há vontade política e integração, o fogo dá lugar à regeneração.