A preparação de Belém para sediar a COP30, em novembro de 2025, ganhou nesta semana um sinal verde importante de um de seus principais financiadores. Uma comitiva do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) percorreu, entre os dias 8 e 9 de setembro, as obras estratégicas que contam com apoio da instituição na capital paraense. O balanço foi considerado positivo: os projetos estão dentro do cronograma e já apresentam impacto direto para milhares de moradores.
As visitas técnicas foram conduzidas em conjunto com representantes do Governo do Pará, que coordena um conjunto de cerca de 30 intervenções estruturantes na Região Metropolitana de Belém. O foco é duplo: preparar a cidade para o evento climático de maior relevância global e, ao mesmo tempo, deixar um legado de infraestrutura que ultrapasse os dias da conferência.
Entre os destaques estão os sistemas de macrodrenagem e saneamento dos canais Caraparu, União, Martir e Murutucu, atualmente em execução, além de outros já entregues, como os canais Timbó, Cipriano Santos, Gentil, Leal Martins e Vileta. Essas obras são apontadas como decisivas para reduzir alagamentos crônicos em bairros populosos e melhorar a mobilidade urbana. O engenheiro do BNDES Pedro Iootty ressaltou que mais de 500 mil pessoas serão beneficiadas diretamente: “Não se trata apenas de preparar a cidade para a COP30, mas de construir uma base sólida para o futuro, com mais qualidade de vida e mobilidade para a população”.
Outro projeto vistoriado foi o Parque Linear da Tamandaré, que está com 95% das obras concluídas. Com 1.344 metros de extensão, o espaço promete se tornar um novo ponto de lazer e encontro para os moradores. O projeto inclui quiosques, playgrounds, arborização e infraestrutura para conter alagamentos. A iniciativa combina urbanismo, meio ambiente e bem-estar social, evidenciando a busca por soluções que conciliem preservação e uso sustentável dos espaços públicos.
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A agenda da comitiva também passou pelo Terminal Hidroviário de Belém, que alcançou 78% de execução. Durante a COP30, o espaço terá uma função estratégica: será o ponto de acesso para os chamados navios-hotel, que vão hospedar parte dos participantes da conferência. Após o evento, a estrutura será convertida em hub permanente para o turismo fluvial na Amazônia, fortalecendo a conexão da capital paraense com rotas turísticas e de transporte de passageiros. Já os cruzeiros contratados pelo Governo Federal ficarão atracados no Porto de Outeiro.
No total, o programa de obras ligado à COP30 movimenta um orçamento de R$ 4,5 bilhões. Desse valor, parte vem do financiamento do BNDES e o restante é garantido por recursos do Tesouro do Estado do Pará, da Caixa Econômica Federal e da Itaipu Binacional. A magnitude desse investimento mostra que a preparação para o evento climático foi usada como oportunidade para acelerar intervenções que estavam represadas há décadas.
As obras de saneamento e drenagem, em especial, revelam uma escolha política e técnica de atacar um dos problemas mais estruturais de Belém: a convivência com enchentes e a precariedade do esgotamento sanitário. Ao mesmo tempo, a construção de novos equipamentos urbanos e turísticos, como o Parque Linear e o Terminal Hidroviário, projeta uma cidade mais integrada, resiliente e aberta ao mundo.
As visitas do BNDES serviram, portanto, não apenas como verificação burocrática de contratos, mas como demonstração prática de que a conferência da ONU sobre clima pode ser um motor de transformação urbana. Como sintetizou Pedro Iootty, a parceria entre governo estadual e banco de fomento “vai além da preparação logística da COP30, alcançando diretamente comunidades periféricas e oferecendo melhorias concretas no dia a dia da população”.
Com a proximidade do evento, cresce a expectativa sobre como Belém lidará com os desafios de receber milhares de delegações internacionais. Mas, se mantido o atual ritmo, o legado mais duradouro será visível muito além das datas da conferência: na redução de alagamentos, no acesso ampliado a espaços públicos de qualidade e em uma rede de transporte hidroviário que valoriza a vocação amazônica da cidade.