Por Reinaldo Pinto dos Santos, empresário, CEO do Açai KAA em Belem-PA
Na vastidão verde da Amazônia, um fruto roxo intenso tem não apenas colorido as tigelas de comida saudável ao redor do mundo mas também se apresenta como um vetor potencial de mudanças socioeconômicas profundas: o açaí. Este superalimento, conhecido por suas propriedades nutritivas e antioxidantes, é um componente integral da economia e da cultura local, mas seu impacto vai muito além, possuindo o potencial de promover verdadeiras transformações sociais na região.
O açaí é cultivado principalmente nos estados do Pará, Amapá, e parte do Maranhão, áreas que juntas formam o coração da produção açaizeira do país. Segundo dados do IBGE, o Pará, sozinho, é responsável por mais de 95% da produção nacional, o que reforça a importância deste fruto para a economia regional.
No entanto, o potencial do açaí transcende os números de sua produção. Este fruto tem sido uma fonte de renda estável para milhares de famílias ribeirinhas, que dependem de sua colheita e venda para sobreviver. O modelo tradicional de manejo do açaí, que respeita os ciclos naturais da floresta e assegura a sustentabilidade de sua produção, é um exemplo claro de como práticas econômicas podem ser alinhadas com a conservação ambiental.
O crescimento do mercado global de açaí também abriu novas portas para essas comunidades, proporcionando-lhes oportunidades para participar de cadeias de valor mais amplas e lucrativas. A internacionalização do açaí trouxe consigo uma série de investimentos em infraestrutura, como melhorias nos sistemas de transporte e processamento, que são fundamentais para conectar os produtores locais aos mercados globais. Essas melhorias, por sua vez, aumentam a qualidade de vida desses produtores e de suas comunidades, promovendo melhor acesso à educação e saúde.
Além disso, o açaí tem um papel crucial no empoderamento de grupos sociais historicamente marginalizados, incluindo as mulheres e os jovens. Muitas cooperativas de produção de açaí são lideradas por mulheres, o que representa uma quebra de paradigmas sociais e uma valorização do papel feminino na economia local. Para os jovens, o açaí oferece uma alternativa econômica viável que os incentiva a permanecer em suas comunidades, ao invés de migrar para áreas urbanas em busca de emprego.
Contudo, para que o açaí continue a ser um agente de transformação social, é crucial que se invista inda mais na oferta de assistência técnica e de crédito e na organização da produção. Mais de 90% do que a natureza produz em açaí anda não é retirado da floresta, mas há tecnologia disponível e capacidade de industrialização para que ele chegue aos principais mercados do mundo e sem a destruição dessa mesma floresta ou dano ao meio ambiente.
O Açaí está para a região amazônica assim como a borracha esteve no século 20. Só não podemos repetir os mesmos erros e esperar que outros países passem a produzir o mesmo produto que hoje a natureza nos oferece em abundancia, mas o mundo todo quer.
Portanto, o açaí não é apenas um alimento saudável que conquistou os mercados internacionais. Ele é, acima de tudo, uma promessa de desenvolvimento sustentável que, se bem gerida, pode transformar a realidade socioeconômica da Amazônia, trazendo progresso e justiça social para uma das regiões mais ricas e ao mesmo tempo mais desafiadoras do Brasil.