A Amazônia é frequentemente associada à sua rica fauna e flora. No entanto, um aspecto igualmente crucial e interligado, os espaços urbanos, não deve ser negligenciado.
Giuliana Lima, uma estudante interessada na interação única entre a natureza e o urbano nas cidades da Amazônia, decidiu explorar esse tema. Sua pesquisa, “Repertório da Trama dos Povos da Floresta para enfrentamento de mudanças climáticas em cidades Amazônicas”, examina práticas tradicionais de gestão da paisagem que, embora não reconhecidas no repertório técnico formal, são vitais para uma agenda sustentável. A professora Ana Cláudia Cardoso, do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (Itec/UFPA), orienta o trabalho.
Giuliana explica que a pesquisa se baseia em uma hipótese da professora Ana Cláudia sobre a Trama Verde e Azul dos povos da floresta. Esta ideia é inspirada na Trama Verde e Azul da França, onde a proteção de rios e florestas foi institucionalizada. No Brasil, acredita-se que os povos tradicionais, ribeirinhos, indígenas e quilombolas, são os responsáveis por essa proteção.
A Trama Verde e Azul em Belém do Pará
A pesquisa revela que, embora a relação entre as pessoas e a natureza seja mais evidente nas ilhas, como a Ilha do Combu, os habitantes da cidade também têm experiências de cuidado e proteção. A investigação focou em duas áreas: o Igarapé São Joaquim, que abrigará um Parque Urbano, e o Igarapé Sapucajuba, que atravessa o campus da UFPA, em Belém.
O estudo contou com a colaboração da Universidade Federal do Ceará, tecnologia de análise de escoamentos de água e entrevistas com líderes comunitários e moradores.
No caso do Sapucajuba, a relação dos moradores com o rio mostrou-se mais frágil que a dos moradores de São Joaquim. Para este caso, foi concebido um plano piloto que reúne ações de enfrentamento das mudanças climáticas, consistindo em um microzoneamento da região em quatro eixos: saneamento, drenagem, fluxos e usos.
Em relação ao São Joaquim, a pesquisa identificou que, apesar do processo de macrodrenagem que suprimiu a vegetação local, impermeabilizou o solo e deslocou parte da população, o vínculo da comunidade com o espaço ainda é forte.
A pesquisa conclui que a Trama Verde e Azul dos povos da floresta não está totalmente perdida dentro da área urbana da RMB e que pode, e deve, ser reativada, pois os saberes locais e tradicionais estão carregados de soluções sustentáveis eficazes.
Sobre a pesquisadora
Giuliana Cira Cardoso Morais Lima, 22 anos, é estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFPA e bolsista de Iniciação Científica (CNPq) no Laboratório Cidades na Amazônia (Labcam/UFPA). Ela também é membro do Grupo de Pesquisa Urbanização e Natureza na Amazônia (Urbana). Giuliana gosta de viver a cidade, andar de bicicleta, pegar um barco para as ilhas e frequentar programações culturais. Ela aspira a seguir uma carreira acadêmica e lecionar.
Sobre a pesquisa
O trabalho “Repertório da Trama dos Povos da Floresta para enfrentamento de mudanças climáticas em cidades amazônicas” foi realizado sob a orientação da professora Ana Cláudia Duarte Cardoso (Itec/UFPA) e financiado pelo Pibic/CNPq. O estudo foi apresentado durante o XXXIV Seminário de Iniciação Científica da UFPA, realizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), e foi premiado pelo Edital Pibic Verão Destaque na Iniciação Científica da UFPA (edição 2023), como representante da área de Planejamento Urbano e Regional.