O início de uma nova jornada no Xingu

As primeiras luzes da manhã ainda tocavam suavemente a superfície do Rio Xingu quando milhares de pequenas tartarugas começaram sua corrida rumo à água. Mais de 3.500 filhotes de tartarugas-da-amazônia, tracajás e pitiús foram conduzidos à natureza por voluntários, técnicos e moradores durante a primeira grande soltura de quelônios de 2025 no Refúgio de Vida Silvestre Tabuleiro do Embaubal — reconhecido como um dos maiores berçários naturais de quelônios de água doce da América do Sul.

Foto: Helder Lana - Norte Energia

Uma ação construída por múltiplas mãos

A soltura foi resultado de uma força-tarefa envolvendo o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio); a Norte Energia, concessionária de Belo Monte; o Ibama; a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas); e o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA). Essa união mostra como diferentes setores podem atuar em sintonia quando o objetivo é proteger a biodiversidade e fortalecer a gestão ambiental do território amazônico.

O coração do Tabuleiro do Embaubal

O Tabuleiro do Embaubal, situado no município de Senador José Porfírio, transforma-se anualmente em um espetáculo de nascimentos. Com cerca de 300 mil filhotes emergindo por ano, a área comprova a importância ecológica da região e a necessidade de monitoramento contínuo para preservar espécies que ainda enfrentam ameaças humanas e naturais.

Foto: Helder Lana - Norte Energia
Foto: Helder Lana – Norte Energia

Voluntariado que transforma e conecta

Entre os participantes da soltura estavam 44 colaboradores da Norte Energia, que se envolveram desde a escavação dos ninhos até o delicado momento da corrida dos filhotes rumo ao rio. Para muitos, como o voluntário Marlon de Oliveira, a experiência representou um reencontro com a identidade amazônica, extrapolando o campo profissional.

A emoção também tomou conta de quem vivenciava o momento pela primeira vez, como Bruna dos Santos. Ao segurar uma pequena tartaruga antes da soltura, ela descreveu a sensação como “encantadora”, revelando o impacto transformador da experiência.

Um programa com mais de uma década de resultados

A ação integra o Programa de Conservação e Manejo de Quelônios de Belo Monte, ativo há 14 anos e responsável por devolver mais de 6,5 milhões de filhotes à natureza desde 2011. Nesta temporada foram identificados 4.238 ninhos, acompanhados diariamente por biólogos e auxiliares de campo entre setembro e janeiro — período crítico para desova e eclosão.

Roberto Silva, gerente de Meios Físico e Biótico da Norte Energia, destacou que cada filhote que alcança a água simboliza a persistência de um trabalho que une ciência, logística e comunidade em prol da vida.

Foto: Helder Lana - Norte Energia
Foto: Helder Lana – Norte Energia

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Fiscalização intensa para garantir a sobrevivência

A temporada reprodutiva exige mais do que acompanhamento científico: é também período de forte vigilância. Equipes do Ideflor-Bio, Ibama, Semas e Polícia Militar atuaram conjuntamente para combater a caça predatória e a coleta ilegal de ovos — ameaças infelizmente ainda presentes.

De acordo com Marco Aurélio Oliveira, gerente da Região Administrativa do Xingu do Ideflor-Bio, a unidade vem sendo fiscalizada diariamente desde julho, em uma rotina essencial para manter o Tabuleiro protegido de pressões humanas.

Compromisso renovado com o futuro da Amazônia

A soltura dos quelônios simboliza não apenas o início da vida de milhares de filhotes, mas também o compromisso contínuo do Estado e de seus parceiros com a proteção da biodiversidade amazônica. Para o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, cada tartaruguinha que chega ao rio representa a vitória da vida e o resultado de um trabalho feito com dedicação e profundo respeito pela Amazônia.

Novas solturas e o envolvimento da comunidade

Nas próximas semanas, outras solturas assistidas ocorrerão no Refúgio de Vida Silvestre Tabuleiro do Embaubal, com a participação de colaboradores da usina e de moradores das comunidades vizinhas. A continuidade dessas ações reforça a compreensão de que proteger a vida é sempre um ato coletivo — e profundamente simbólico.