O governo federal lançou nesta quinta-feira, em Belo Horizonte, o programa Gás do Povo, iniciativa que promete transformar a forma como milhões de brasileiros de baixa renda terão acesso ao gás de cozinha. A medida, apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, substitui o Auxílio Gás e tem como meta beneficiar diretamente 15,5 milhões de famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico).

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A mudança mais significativa está no formato de distribuição. Em vez de receber um valor em dinheiro, como acontecia com o benefício anterior, as famílias contempladas poderão retirar os botijões de 13 quilos gratuitamente em pontos de revenda credenciados pelo governo. O presidente ressaltou que a política busca corrigir distorções históricas no mercado. “Um botijão sai da Petrobras por R$ 37 e chega a custar até R$ 150 para o consumidor. Isso é inadmissível”, afirmou durante o evento.

O lançamento ocorreu no Aglomerado da Serra, uma das maiores comunidades de Belo Horizonte, e contou também com a presença do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Segundo o governo, a operação direta entre famílias e revendedoras elimina atravessadores, amplia o controle sobre os custos e dá mais transparência ao processo.

Um impacto além da economia doméstica

O acesso ao gás de cozinha é uma questão de saúde pública. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que cerca de 12 milhões de domicílios ainda utilizam lenha como complemento para cozinhar. Entre eles, cinco milhões de famílias recorrem a essa prática por não conseguirem arcar com o preço do botijão. A queima de lenha e outros combustíveis alternativos expõe moradores à poluição do ar, ao risco de incêndios e a problemas respiratórios.

Nesse sentido, o Gás do Povo pretende reduzir desigualdades e proteger especialmente mulheres e crianças, que muitas vezes ficam mais expostas à fumaça dentro das casas.

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Financiamento e estrutura

O programa será custeado integralmente com recursos da União, sem necessidade de créditos adicionais. A Lei Orçamentária Anual (LOA) já reservou R$ 3,57 bilhões para este ano e R$ 5,1 bilhões para 2026. A previsão é de que aproximadamente 65 milhões de botijões sejam distribuídos anualmente.

As famílias terão direito a um número limitado de botijões, proporcional ao tamanho do núcleo familiar: até três para famílias de dois integrantes, quatro para as de três pessoas e seis para aquelas com quatro ou mais membros. A prioridade será para os beneficiários do Bolsa Família.

Distribuição regional

A maior concentração de famílias atendidas está no Nordeste, onde vivem mais de 7,1 milhões de beneficiários. Em seguida aparecem o Sudeste, com 4,4 milhões; o Norte, com 2,1 milhões; o Sul, com 1,1 milhão; e o Centro-Oeste, com 889 mil. Essa divisão revela o peso do programa em regiões historicamente mais vulneráveis, onde o custo do gás representa uma fatia desproporcional do orçamento doméstico.

Funcionamento prático

Para acessar o benefício, as famílias poderão utilizar diferentes instrumentos: um aplicativo desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), um cartão próprio do programa, vales impressos disponíveis em agências da Caixa Econômica Federal ou até o cartão do Bolsa Família.

A identidade visual das revendas participantes será padronizada, facilitando a identificação pelos beneficiários. O preço de referência será definido pelos ministérios da Fazenda e de Minas e Energia, com base em dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O cálculo será regionalizado, levando em conta diferenças logísticas entre os estados. O governo enfatizou, porém, que o valor estabelecido não inclui o serviço de entrega domiciliar, que seguirá sendo cobrado separadamente pelas revendedoras.

Uma política de alcance social

Ao lançar o Gás do Povo, o governo sinaliza uma aposta na universalização do acesso a um bem essencial. A iniciativa combina alívio econômico imediato para milhões de famílias, redução de riscos ambientais e de saúde e fortalecimento da rede de proteção social. Ao mesmo tempo, reacende o debate sobre os custos da energia no Brasil e a necessidade de políticas que conciliem justiça social e sustentabilidade.