No coração do Pará, a rotina do campo vem ganhando novos contornos sustentáveis. Em comunidades como São José do Anapolina, em Santa Maria do Pará, agricultores locais estão transformando propriedades degradadas em áreas verdes produtivas. O movimento é parte de um esforço articulado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater), que, neste Dia da Amazônia, reforça seu papel estratégico na restauração ambiental do estado.

Propriedade em Santa Maria do Pará, na região Guamá

Na beira do rio Furo Lindo, Antônio Araújo, agricultor de 42 anos, prepara o solo de um hectare para receber mudas de andiroba, ipê e buriti. “A floresta é a base do trabalho no campo. Plantar árvores é investir no futuro”, resume. Poucos quilômetros adiante, João Luiz Florêncio, de 57 anos, aposta na diversidade: açaí, cupuaçu, mogno e outras espécies ocuparão os três hectares do Sítio Ebenézer. Para ele, reflorestar é também estratégia econômica. “Com a mistura certa de plantas, consigo alimento e renda”, explica.

As duas iniciativas fazem parte da meta ambiental lançada pela Emater em 2025, no documento Ater Pública para Justiça Climática na Amazônia, alinhado ao Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA) e ao Programa de Atuação Integrada para Territórios Sustentáveis (PTS). O compromisso prevê a elaboração, até o final do ano, de pelo menos 600 Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e Alteradas (Pradas) em pequenas e médias propriedades rurais nos 144 municípios paraenses.

Em Santa Maria do Pará, já são três planos concluídos e outros 12 em andamento. A meta local é alcançar 41 propriedades. O processo começa com encontros comunitários, em que técnicos explicam as regras ambientais e orientam os agricultores sobre como se adequar à legislação. O foco está em regularizar o passivo ambiental identificado nos Cadastros Ambientais Rurais (CARs), abrangendo áreas de reserva legal, preservação permanente e uso restrito.

Segundo Elcyley Dias, técnico em agropecuária e chefe interino do escritório da Emater no município, os planos não são apenas burocráticos: são guias práticos para conciliar conservação ambiental com produção agrícola.

No município de Santa Maria do Pará, na região Guamá, agricultores familiares têm apoio da Emater nas atividades rurais
No município de Santa Maria do Pará, na região Guamá, agricultores familiares têm apoio da Emater nas atividades rurais

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Tecnologia e saber tradicional

Para elaborar os Pradas, a Emater utiliza geotecnologias e análises socioeconômicas, avaliando se cada área pode se regenerar naturalmente ou se precisa de sistemas agroflorestais. Esses sistemas integram espécies frutíferas e madeireiras e permitem colheitas em até cinco anos — um horizonte mais curto e atrativo para famílias agricultoras.

A iniciativa conta com a parceria da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), que reforça a conexão entre reflorestamento e segurança alimentar. A prioridade é recuperar áreas do bioma amazônico com espécies que fazem parte da cultura local, como o açaí.

Os projetos também orientam agricultores a abandonar práticas nocivas, como queimadas e derrubadas, e a acessar linhas de crédito rural, especialmente do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pronaf), financiadas pelo Banco da Amazônia (Basa) e pelo Banco do Brasil (BB).

Restaurar é devolver a vida

Para Camila Salim, engenheira ambiental da Emater e mestre em Ciências Ambientais, reflorestar é um gesto urgente e inadiável. “Restaurar é devolver a vida, garantir água limpa, conservar espécies e assegurar a dignidade das comunidades”, defende.

Ela lembra que as populações da floresta carregam saberes ancestrais sobre sustentabilidade, acumulados ao longo de séculos de convivência com a natureza. “Essas comunidades são protagonistas. A Amazônia é essencial não apenas para quem vive aqui, mas para o equilíbrio do planeta inteiro.”

Nesse 5 de setembro, Dia da Amazônia, a mensagem é clara: reflorestar não é apenas plantar árvores. É reatar laços entre pessoas, território e futuro, numa rede em que agricultores, instituições e saberes tradicionais se encontram para garantir a sobrevivência da floresta — e de todos nós.