No Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, cooperativas, órgãos públicos e cidadãos promoveram ações que reforçam uma certeza: pequenos atos de separação de lixo podem gerar impacto significativo em termos de limpeza urbana, economia circular, geração de renda e inovação
Em Belém, as mudanças são visíveis — desde a reorganização da coleta até a adoção de tecnologias limpas que transformam resíduos em novos produtos.
Com liderança da cooperativa Concaves, do Instituto Alachaster e de parcerias como a desenvolvida com o Instituto AmazôniaTEC com a tecnologia FlexStone, a cidade busca não apenas reciclar, mas reencontrar seu futuro sustentável.
A gestão de resíduos em Belém vinha enfrentando diversos entraves: infraestrutura ineficiente, falta de pontos de descarte e perda de confiança por parte dos cidadãos. O Censo da Abipet mostrou um avanço no país — 53% de embalagens PET recicladas em 2024 (410 mil toneladas) — mas, até pouco tempo, Belém seguia com coleta intermitente e baixa adesão.
“Hoje retomamos a confiança das pessoas. A prefeitura reorganizou o sistema, fortalecendo cooperativas e instalando 22 LEVs (Locais de Entrega Voluntária) pela cidade”, declara Débora Baía, presidente da Concaves. Segundo ela, oferecer alternativas próximas é essencial: “Quando o cidadão separa seu material, lava e deposita em pontos próximos, ajudamos a transformar aquilo em renda”.
No galpão da Concaves, os resíduos ganham valor. Lá, o plástico é separado por cor e tipo — até oito variáveis — para agregar valor e facilitar a venda às indústrias, transformadas em novos produtos.
A cooperativa gera empregos dignos, capacita seus membros e fortalece comunidades locais.
O Instituto Alachaster, coordenado por Ted Vale, reforça essa visão de economia circular inclusiva: “Queríamos construir uma horta, brechó e educação ambiental — mas grande parte disso só é possível com coleta seletiva eficiente. É um ecossistema composto por cooperativas, prefeitura, moradores, instituições”.
A mudança começa dentro de casa.
O universitário Weyder Vasconcelos, 21 anos, diz que não participa formalmente do sistema de reciclagem, mas evita o descarte irregular e reduz seu consumo. “Guardar o lixo até achar uma lixeira já ajuda. E pensar no impacto do que consumo também”, afirma.
Desse modo, iniciativas simples complementam a ação institucional. A prefeitura, cooperativas e ONGs intensificaram materiais educativos em mídias sociais, escolas e bairros — estimulando a cidadania ativa como agente transformador.
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Segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), o Brasil reciclou 410 mil toneladas de embalagens PET em 2024 — 14% a mais que no ano anterior. A taxa de reaproveitamento do alumínio chega a 99%, enquanto o lixo eletrônico, segundo a Embrapa, é o menos reciclado: apenas 3% recebe destino adequado.
Para maximizar o aproveitamento dos plásticos coletados, Belém conta agora com a tecnologia FlexStone, desenvolvida pelo Instituto AmazôniaTEC no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá. A técnica processa até 96% dos tipos de plástico sem precisar de separação prévia ou lavagem, resultando em um produto chamado “brita ecológica”, ideal para construção civil.
Os objetivos são ambiciosos: até outubro de 2026, a demonstração de um sistema construído no galpão da Concaves processaria 30 t/dia, com potencial para uso em construções comunitárias — como casas construídas com centenas de milhares de garrafas PET. O projeto deve gerar impacto significativo nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente aliviando pobreza, fomentando cidades sustentáveis e incentivando consumo responsável.