O chefe de estado brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, acolheu o presidente espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (6). A visita oficial resultou na assinatura de acordos bilaterais em diversas áreas, incluindo comunicações, ciência, tecnologia, inovação, administração pública e saúde. Ambos os líderes expressaram o desejo de fortalecer as relações políticas, comerciais e de investimentos.
Lula e Sánchez estão comprometidos em promover as negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE). Sánchez afirmou que a Espanha não é um obstáculo para a conclusão do acordo, que ele espera que seja implementado em breve. Ele acredita que, após a guerra na Ucrânia, que afetou o fornecimento de energia na Europa, entre outros aspectos, os países europeus aprenderam a lição de que é necessário diversificar e buscar novas parcerias comerciais.
Sánchez agradeceu a Lula por sua liderança em avançar no acordo. Ele vê a iniciativa como um reforço dos laços comerciais e de investimento, trazendo benefícios sociais e ambientais. Ele destacou que América Latina e União Europeia são aliados naturais e ressaltou a visão comum de Brasil e Espanha na defesa de temas como justiça social, transição verde e justa e a cooperação internacional com um sistema financeiro reformado.
Lula destacou que um dos obstáculos para a finalização do acordo Mercosul-UE vem da França, que é protecionista em termos de interesses agrícolas. Ele afirmou que é necessário, politicamente, economicamente e geograficamente, fazer esse acordo e mostrar ao mundo que precisamos avançar.
Aprovado em 2019, após 20 anos de negociações, o acordo Mercosul-UE precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor. A negociação envolve 31 países. O acordo abrange temas tarifários e de natureza regulatória, como serviços, compras públicas, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual.
Investimentos
A agenda de Sánchez está voltada para investimentos do país europeu no Brasil e inclui visita ao estado de São Paulo amanhã (7). Após o encontro bilateral de hoje no Palácio do Planalto, Sánchez e Lula participaram de reunião com empresários espanhóis, conduzida pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, também no Palácio do Planalto.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o volume de investimentos espanhóis no Brasil é significativo. A Espanha consolidou-se como o segundo maior investidor no país, atrás dos Estados Unidos, com presença nos setores energético, bancário, de telecomunicações e de seguros, entre outros.
Mais de mil empresas espanholas estão presentes no mercado brasileiro, como a Telefônica e o Banco Santander.
O estoque total de investimentos do país europeu no Brasil é estimado em US$ 59 bilhões, com fluxo anual de cerca de US$ 3,3 bilhões nos últimos anos.
Sánchez afirmou que o Brasil é um destino muito atrativo para as empresas espanholas, especialmente as que lidam com transição energética e também mitigação e enfrentamento às mudanças climáticas. Ele mencionou ações do Estado brasileiro para a estabilidade política e econômica, como a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária.
Lula acrescentou que o Brasil apresenta muitas qualidades e conseguiu fazer o necessário para atrair o interesse de investidores de outros países. Ele citou a Telefônica e o Santander como exemplos de empresas que sabem que valeu a pena investir no Brasil e que buscam oportunidades para novos investimentos.
Relações políticas
Pedro Sánchez também destacou a consolidação da relação política e diálogo permanente entre Brasil e Espanha. Para o presidente espanhol, os dois países devem permanecer firmes na defesa da democracia e defendê-la de extremismos, como os eventos de 8 de janeiro [de 2023] em Brasília. Na ocasião, vândalos invadiram as sedes dos Três Poderes, na capital, federal, na tentativa de um golpe de Estado.
Lula disse que Brasil e Espanha enfrentam o extremismo, a negação da política e o discurso de ódio, alimentados por notícias falsas. Ele afirmou que a experiência no enfrentamento da extrema direita, que atua coordenada internacionalmente, ensina que é preciso unir todos os democratas. Ele ressaltou que não se pode transigir com o totalitarismo, nem se deixar paralisar pela perplexidade e pela incerteza diante dessas ameaças.
Para Lula, a defesa da democracia está inevitavelmente ligada à luta contra todas as formas de exclusão. Ele citou casos de racismo, como os que envolveram o jogador brasileiro Vinicius Júnior, do Real Madri.
Lula afirmou que Brasil e Espanha têm registrado episódios de racismo, de discriminação racial e de xenofobia, inclusive na área de esportes de grande público. Ele acredita que apenas um projeto social inclusivo permitirá a construção de sociedades prósperas, livres, democráticas e soberanas.
Além da agenda bilateral, os chefes de governo trataram de temas como a reforma da governança de instituições multilaterais e outras questões globais, entre elas a crise no Oriente Médio, em particular a grave situação humanitária em Gaza e as perspectivas de avanço de uma solução de dois Estados, e o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Após os atos no Palácio do Planalto, Sánchez foi recebido por Lula para um almoço no Palácio do Itamaraty, do qual participaram diversas autoridades, como o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. Ainda hoje, o presidente espanhol irá ao Congresso Nacional para encontro com o presidente do Legislativo, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Em abril do ano passado, Lula fez visita oficial à Espanha, ocasião em que foram assinados acordos para cooperação nas áreas de educação, trabalho e pesquisa científica.