Belém vive um momento histórico em sua relação com o saneamento e a infraestrutura urbana. Em meio à preparação para a COP30, que colocará a capital paraense no centro das atenções globais, o Ministério das Cidades, em parceria com o Governo do Pará, entregou obras que prometem transformar o cotidiano de milhares de moradores e fortalecer a imagem da cidade no cenário internacional.

Divulgação - Governo do Pará

As inaugurações foram conduzidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado do ministro das Cidades, Jader Filho, em uma maratona de agendas que começou pela Estação de Tratamento de Esgoto Una (ETE Una), no bairro do Telégrafo, e incluiu o sistema de esgotamento sanitário do Complexo do Ver-o-Peso. Juntas, as duas intervenções somam R$ 143 milhões em investimentos, articulados entre recursos federais, financiamentos e contrapartidas do Estado.

A ETE Una é considerada a maior estação de tratamento de esgoto do Pará, com capacidade para tratar 475 litros de esgoto por segundo. O projeto, iniciado ainda em 2008, sofreu paralisações e só foi retomado em 2025, com prioridade para ser concluído como parte do pacote de R$ 6 bilhões do Governo Federal em obras estruturantes ligadas à COP30. Com sua operação, dez bairros de Belém passam a ser atendidos, beneficiando de imediato cerca de 90 mil pessoas, com projeção de alcançar até 350 mil moradores nos próximos anos.

Foto: Ricardo Stuckert - PR
Foto: Ricardo Stuckert – PR

SAIBA MAIS: Belém ganha parque linear e estação de esgoto antes da COP 30

Para o ministro Jader Filho, a conclusão representa um marco de transformação urbana: “Esse equipamento impede que o esgoto continue sendo despejado diretamente nos rios e dá início a uma nova etapa do saneamento em Belém. Não resolvemos todos os problemas, mas criamos as condições para avançar muito.”

O presidente Lula reforçou a importância simbólica da obra no contexto internacional. Segundo ele, os visitantes da COP30 verão uma cidade que busca melhorar a vida de sua população sem perder o vínculo com a floresta. “É uma revolução para mostrar que aqui não se brinca em serviço. Cuidamos da floresta, das pessoas e da cidade. Belém será outra depois da COP30”, declarou.

O governador Helder Barbalho também destacou o impacto direto sobre a saúde pública e o meio ambiente: “Estamos inaugurando a maior estação de tratamento de esgoto da história do estado. Isso significa menos esgoto a céu aberto, mais qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.”

No Ver-o-Peso, um dos maiores símbolos culturais da Amazônia, o impacto é ainda mais emblemático. Pela primeira vez em 398 anos de história, o complexo passa a contar com rede de coleta e tratamento de esgoto. O sistema beneficia diretamente 16 mil moradores e comerciantes, além de 50 mil pessoas que circulam diariamente pela feira e seus mercados — Ferro, Carne e Solar da Beira. O investimento de R$ 18,5 milhões teve R$ 16,6 milhões aplicados pelo Ministério das Cidades. Durante as obras, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acompanhou cada etapa para preservar os espaços tombados e registrar achados arqueológicos.

A feirante Maria do Socorro Gonçalves, que há três décadas vende refeições no local, resumiu o sentimento dos trabalhadores: “Agora o esgoto não vai mais poluir a Baía do Guajará e os rios. Isso melhora não só para quem vive da feira, mas para todos que dependem das águas para sobreviver.”

Além das obras de saneamento, Lula e Jader Filho inauguraram o Canal da União, integrado à bacia hidrográfica do Tucunduba. A intervenção beneficia 300 mil moradores com 10 quilômetros de canais, drenagem, urbanização, redes de água e esgoto, e reassentamento de famílias que vivem em áreas de risco. O investimento federal foi de R$ 127 milhões.

Desde 2019, o governo estadual já executou obras em 18 canais de Belém, sendo 13 diretamente relacionados à preparação para a COP30. Entre eles, os canais do Tucunduba, Mundurucus, Timbó, Vileta, Leal Martins e Gentil. No total, essas intervenções devem impactar a vida de meio milhão de habitantes.

Mais do que inaugurações pontuais, essas obras representam uma tentativa de reescrever a relação histórica de Belém com seu território, seus rios e seus canais. A capital da Amazônia, marcada por alagamentos, precariedade sanitária e exclusão urbana, começa a viver uma transformação que une legado ambiental, melhoria da qualidade de vida e visibilidade internacional. A COP30, nesse sentido, é catalisadora de uma mudança que pode deixar marcas muito além dos dias de conferência.