Sudário de Turim, é alvo de discussões que já duram séculos - Reprodução
O Sudário de Turim é uma das relíquias religiosas mais famosas – e polêmicas – do mundo. A peça de linho de 4 metros, que traz a imagem difusa da frente e do dorso de um homem, é considerada por fiéis como o tecido que teria envolvido o corpo de Jesus após a crucificação. Cientistas, historiadores e religiosos, no entanto, há séculos questionam sua autenticidade.
Agora, um estudo publicado no Journal of Medieval History traz uma descoberta importante: um documento do século XIV, escrito pelo bispo e filósofo francês Nicole Oresme, que rejeita explicitamente a veracidade do sudário. Trata-se da mais antiga rejeição escrita conhecida da relíquia.
Segundo Andrea Nicolotti, um dos principais especialistas mundiais sobre o Sudário de Turim, a descoberta é decisiva porque mostra que já nos anos 1370 havia consenso de que a peça exibida na vila de Lirey, na França, era uma fraude. “Oresme não estava envolvido diretamente na disputa e, portanto, não tinha interesse em manipular o debate. Isso dá ainda mais peso à sua opinião”, afirmou em comunicado.
Nicole Oresme (c. 1320–1382) foi um dos pensadores mais influentes de sua época, escrevendo sobre economia, física, matemática, astrologia e filosofia. Reconhecido por adotar explicações racionais para fenômenos religiosos que eram frequentemente vistos como milagres ou sinais divinos, Oresme analisava relatos com rigor e classificava testemunhos de acordo com a confiabilidade de suas fontes.
Essa postura explica por que ele apontou o sudário como fraude em seus escritos, décadas antes de outras denúncias oficiais. Até agora, o documento mais antigo conhecido com essa posição era de 1389, quando o bispo de Troyes classificou o tecido como falso – citando inclusive ter lido registros anteriores que chegavam à mesma conclusão, muito provavelmente o tratado de Oresme.
Antes de ser associado a Turim, a relíquia ficou conhecida como Sudário de Lirey, nome da pequena vila francesa onde foi exibida durante boa parte do século XIV. Documentos indicam que por volta de 1355 o bispo de Troyes já havia ordenado sua retirada de circulação, após investigações concluírem que a peça não era autêntica.
Mesmo assim, a devoção popular se manteve e a relíquia circulou entre nobres e membros da Igreja. Em 1389, o papa Clemente VII declarou oficialmente que o sudário não passava de um artefato sem relação com Cristo.
Radiocarbono e outros testes científicos já dataram a confecção do tecido entre os séculos XIII e XIV, reforçando a tese de que não poderia ser o sudário original de Jesus. Ainda assim, milhões de fiéis continuam acreditando na autenticidade da peça, hoje guardada na Catedral de São João Batista, em Turim, Itália.
O estudo de Nicolas Sarzeaud, que identificou o documento de Oresme, não apenas retrocede em décadas a rejeição formal da peça, mas também oferece pistas sobre sua circulação e percepção na Idade Média.
Para Nicolotti, a redescoberta é mais um lembrete de que a polêmica em torno do Sudário de Turim não é recente. “Desde a sua primeira aparição, já havia quem apontasse a relíquia como falsificação. O novo documento mostra que essa dúvida fazia parte do debate público medieval e não surgiu apenas com a ciência moderna.”
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