Exposição no Sesc revela histórias e rituais do povo Krahô

Leonardo Miranda - Divulgacao Amazonia das Artes

O Sesc Ver-o-Peso recebe, até novembro, a exposição “Festa do Peixe e da Lontra – Histórias do Povo Krahô”, do fotógrafo e documentarista Emerson Silva. A mostra integra o Projeto Amazônia das Artes, iniciativa do Sesc que promove a circulação de produções artísticas em diferentes estados da Amazônia Legal e da região Norte do Brasil. Com entrada gratuita e classificação livre, a programação é um convite para mergulhar no universo cultural do povo indígena Krahô, do Tocantins, por meio da força da fotografia, da memória e da oralidade.

A exposição reúne 20 imagens em preto e branco produzidas em 2018, na aldeia Manoel Alves Pequeno. Os registros capturam não apenas instantes da tradicional Festa do Peixe e da Lontra, mas também aspectos do cotidiano, da cosmologia e da resistência cultural Krahô. Emerson Silva constrói, com sua lente, um diálogo entre arte e etnografia, em que a fotografia se torna ponte para valorizar identidades invisibilizadas. O conjunto ainda inclui um livro bilíngue (Krahô/Português) e um documentário, compondo um percurso narrativo que ultrapassa a imagem e se desdobra em material educativo e de preservação cultural.

Segundo Bruno Cantuária, analista de artes visuais do Sesc Ver-o-Peso, o projeto vai além da estética visual. Para ele, a mostra é um exercício de sensibilidade, pois revela modos de vida profundamente conectados à natureza, algo que o público urbano muitas vezes desconhece. “O trabalho de Emerson nos permite compreender que a fotografia não é apenas objeto exposto em uma galeria, mas também testemunho de trajetórias coletivas e espelhos de universos culturais que merecem respeito. Conhecer o outro é ampliar nossa capacidade de convivência e nossa consciência de que o Brasil é feito de múltiplos Brasis, diferentes e semelhantes ao mesmo tempo”, afirma.

Leonardo Miranda – Divulgacao Amazonia das Artes

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Emerson Silva destaca que fotografar o povo Krahô foi também assumir uma responsabilidade. Para ele, a imagem pode ser uma ferramenta de transformação social, pois aproxima mundos e desfaz fronteiras. “A gente só respeita o outro quando conhece o outro. A fotografia é a minha forma de contribuir para um mundo mais justo, de levar ao público uma cultura que, apesar de presente, muitas vezes permanece invisível. Fazer parte do Projeto Sesc Amazônia das Artes, que é o maior de circulação de artistas da região, me possibilita apresentar a riqueza do povo Krahô para além do Tocantins”, explica o fotógrafo.

A gerente de cultura do Sesc Pará, Carol Abreu, reforça que a circulação do projeto é uma experiência única no cenário artístico nacional. Para ela, a iniciativa fortalece a rede cultural da Amazônia ao criar pontes entre linguagens, territórios e artistas. “O Amazônia das Artes é um espaço de integração, que amplia a visibilidade da produção amazônica e fomenta processos de desenvolvimento artístico. No Pará, receber o projeto é valorizar os artistas locais e reafirmar o protagonismo da região no contexto nacional”, avalia.

Leonardo Miranda – Divulgacao Amazonia das Artes

A mostra também se preocupa com a acessibilidade. O espaço conta com recursos de audiodescrição e possibilidade de agendamento de visitas mediadas, o que amplia o alcance da experiência. As visitas podem ser realizadas de terça a sábado, das 10h às 19h, e aos domingos, das 10h às 13h. Para visitas agendadas, os contatos são psampaio@pa.sesc.com.br e bcantuaria@pa.sesc.com.br.

Mais do que uma exposição, “Festa do Peixe e da Lontra” é uma jornada de reconhecimento e valorização cultural. Ao projetar no espaço urbano de Belém as histórias e memórias do povo Krahô, a mostra evidencia a potência da arte como mediadora entre mundos distintos. A fotografia de Emerson Silva se torna, assim, um gesto político e poético: um registro que preserva, conecta e provoca reflexão sobre a diversidade cultural brasileira.