Pssica - Netflix Divulgação
A estreia de Pssica, produção brasileira lançada pela plataforma de streaming, marca um mergulho inédito em um universo em que a exuberância da Amazônia se mistura com histórias de violência, resistência e misticismo. Criada por Fernando e Quico Meirelles, a série é inspirada no livro homônimo de Edyr Augusto, publicado em 2015, e transporta o espectador para um Pará em que a paisagem natural convive com a dureza de crimes invisíveis aos olhos de grande parte do país.
Mais do que um simples thriller, Pssica explora a relação entre personagens comuns e forças maiores, tanto humanas quanto sobrenaturais, revelando um Brasil profundo e marcado por desigualdades, mas também por uma cultura riquíssima que resiste ao apagamento.
No centro da narrativa está Janalice, interpretada pela estreante Domithila Cattete, que assume um dos papéis mais desafiadores da temporada. A personagem é sequestrada por uma quadrilha que domina os rios da região e acaba sendo levada para uma rede internacional de tráfico sexual. Ao longo de sua trajetória, ela se depara com situações extremas que a obrigam a abandonar a fragilidade inicial e descobrir uma força inesperada.
Essa transformação, que oscila entre vulnerabilidade e coragem, é um dos trunfos da série. A trajetória de Janalice dá corpo ao dilema de milhares de mulheres que, dentro e fora da Amazônia, enfrentam estruturas de violência tão profundas que parecem engendradas no destino.
Paralelamente, a história acompanha Mariangel, personagem que nasceu homem na obra literária de Edyr Augusto, mas que na adaptação televisiva ganha a força de uma mulher. Essa mudança narrativa amplia a perspectiva feminina sobre temas como violência, luto e vingança.
Motivada pela perda trágica da família, Mariangel inicia uma cruzada contra inimigos poderosos. Sua trajetória, no entanto, é atravessada por algo que os moradores da região chamam de “pssica” — uma espécie de maldição ou azar que ronda quem cruza determinados caminhos. O uso dessa expressão típica do Norte não apenas reforça a autenticidade cultural da obra, mas também adiciona uma camada de realismo mágico, recurso que aproxima a série de tradições amazônicas e de narrativas literárias que misturam o palpável e o inexplicável.
Pssica não é apenas um relato de sobrevivência individual ou vingança. Ao retratar tráfico humano, exploração sexual e violência estrutural, a produção assume contornos de denúncia social. A série deixa claro que a beleza da Amazônia, tantas vezes reduzida a cenário exótico, convive com redes criminosas que lucram com a destruição de corpos e territórios.
Esse contraponto entre deslumbramento natural e brutalidade social cria uma experiência de imersão rara. A floresta aparece não só como pano de fundo, mas como personagem silenciosa, testemunha de dores e segredos que se repetem de geração em geração.
O envolvimento de Fernando e Quico Meirelles, reconhecidos pela capacidade de aliar estética sofisticada e crítica social, traz peso adicional à produção. Ao lado da Netflix, eles constroem um enredo que vai além do entretenimento, convidando o espectador a refletir sobre questões urgentes do Brasil contemporâneo.
A adaptação também reitera a relevância de Edyr Augusto, um dos escritores mais potentes da literatura amazônica atual, conhecido por obras que expõem a violência e a beleza contraditória da região.
Ao apostar em personagens femininas fortes, ambientação regional autêntica e uma narrativa que mistura denúncia social com elementos sobrenaturais, Pssica tem potencial para ocupar um lugar de destaque entre as produções brasileiras de maior repercussão internacional.
Para o público, a série promete mais do que suspense: oferece a chance de enxergar a Amazônia não como um território distante, mas como um espaço vivo, habitado por histórias de dor, resistência e esperança.
Seja pela intensidade dramática de Janalice, pela fúria transformadora de Mariangel ou pela presença inquietante da “pssica”, a obra convida a refletir sobre como o destino individual e coletivo é atravessado tanto por forças sociais quanto por crenças culturais. Uma trama que, ao mesmo tempo em que entretém, lança luz sobre as sombras do Brasil profundo.
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