Seap tem Feira de Oportunidades com peças produzidas por custodiados em Cametá

UCHOASILVA/SEAP

Pessoas na condição de privação de liberdade têm tido a oportunidade de desenvolver um ofício, por meio das políticas de ressocialização da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). O projeto “Feira de Oportunidades” da Unidade de Custódia e Reinserção de Cametá (UCR Cametá) é um bom exemplo disso.

Custodiados que trabalham com marcenaria, artesanato e tapeçaria, exibem e comercializam  o resultado de seus trabalhos na Feira de Oportunidades, realizada há quase dois anos, sempre aos domingos, na Praça Raimundo Peres, também conhecida como “Praça do Titio”, em Cametá.

Neste domingo (29), foi possivel ver a interação dos internos com a população, algo que surpreende à primeira vista, mas já na rotina de frequentadores. Policiais penais acompanham de perto a ação.

Foto: DivulgaçãoMúsica, cultura, arte, artesanato, comidas típicas estão presentes na Praça do Titio, como na maioria das praças de qualquer município do país. Mas no centro da praça, o que chama a atenção do público são as peças e objetos.

Móveis, cadeiras, baús, cama box, mesas de centro, almofadas, peças de jardim vertical, kit toc-toc. Há uma diversidade de objetos de decoração, por exemplo. Tudo produzido e confeccionado por custodiados da UCR Cametá.

Algumas peças, como os jogos de toc-toc e almofadas, esgotam rapidamente. “São os campeões de vendas”, conta o diretor da Unidade, Júnior Xavier. O diretor acompanhou a transformação do sistema penitenciário, bem como a criação da Seap. Com formação em Serviço Social, Xavier tem uma visão humanizada do cárcere e se encaixou perfeitamente na política de reinserção social hoje desenvolvida pela secretaria.

A proposta da “Feira das Oportunidades” foi abraçada rapidamente pelo diretor e demais servidores da unidade penal de Cametá e gestores da Seap. Outro trunfo agregado às mudanças implementadas na UCR Cametá, é que todos trabalham em conjunto, a exemplo do acontece para a realização da “Feira”.

Foto: UCHOA SILVA NCS-SEAPPúblico aprova a iniciativa

O empresário Ângelo Borges, de 43 anos, frequenta a praça, mas ainda não conhecia o trabalho criativo dos internos do UCR. Ele aprovou o que viu e comprou um kit de toc-toc. “É a primeira vez que estou vendo esse belo trabalho de reintegração deles à sociedade. Estão de parabéns os detentos. Comprei o kit de toc-toc e agora só falta ir atrás do caranguejo que ainda não tem”, brincou o empresário.

A professora municipal Socorro Fernandes dos Santos, também, assídua frequentadora da Praça Raimundo Peres, já é cliente dos artesãos e marceneiros da unidade penal de Cametá. Ela afirma que na escola onde trabalha, existe também um projeto educacional com os internos do CRRCAM, mas na manhã de domingo foi a vez dela levar para casa uma nova almofada confeccionada nas oficinas da unidade penal.

“Achei linda, bem feitinha. acho que eles fazem com muito carinho. Eu acho muito importante que exista esse tipo de trabalho. Representa muito para a sociedade, que eles estão fazendo e que ajuda na mente deles, no convívio social e gera renda para eles”, destacou a professora.

Aprendizado – O custodiado Ricardo Alves de Moraes está há um ano trabalhando nas oficinas de marcenaria e tapeçaria. Ele conta que o trabalho é um modo para recomeçar a vida em liberade. “É uma sensação muito boa, poder ver as pessoas, poder mostrar seu trabalho”.

“Quando a pessoa compra algum material seu, ali a gente se sente muito bem. Só tenho a agradecer a Deus e a oportunidade que a Seap está dando para nós mostrarmos o que uma pessoa pode fazer, mesmo estando dentro do cárcere. É uma experiência que só faz crescer o projeto”, disse o interno.

Rosinaldo Gomes Pereira, também é apenado e participa pela quarta vez da “Feira de Oportunidades”. Rosinaldo trabalhava com a venda de mármore e granito. Agora, como custodiado ele participa dos projetos de educação e foi aprovado no Enem PPL de 2021 para o curso de pedagogia.

“Aprendi carpintaria, artesanato. Estar aqui é uma sensação de alívio, de liberdade. É bom para o preso começar a interagir, principalmente aquele que vai voltar para o convívio da sociedade a partir da reinserção, respirar um novo ar fora da cadeia. O novo sistema da SEAP melhorou bastante o ambiente da unidade, mudou 99%”, garante Rosinaldo.

Interação social quebra tabus 

Com uma população carcerária de 132 custodiados, a UCR Cametá tem 64 alunos cursando o a Educação para Jovens e Adultos (EJA), nas 4 etapas de formação. A partir de cada edição da Feira, a aceitação da sociedade vem aumentando em relação ao combate do estereótipo e tabus de discriminação contra as pessoas privadas de liberdade.

O resultado desse trabalho se expandiu e hoje atinge diversos atores sociais que apoiam as iniciativas de trabalho e educacionais desenvolvidas na unidade de Cametá.

Atualmente a parceria da Seap com a Prefeitura de Cametá, através da Secretaria Municipal de Educação, disponibiliza 5 professores, sendo dois mestres, um doutorando e um Doutor para atuarem nos programas de educação oferecidos na unidade. Uma nova sala de aula já está sendo preparada para aumentar a capacidade de custodiados a serem atendidos nos programas de educação.

“A gente envolve a sociedade como um todo, envolve a OAB, os advogados que atendem na unidade principalmente, os professores da EJA Carcerária, e outros professores para conhecer o que está sendo feito, não só a questão dos produtos que estão sendo apresentados, todo o contexto da custódia humanizada, dos projetos sociais”, revela Xavier.

A Feira, defende o diretor, contribui significativamente para desenvolver um outro olhar da sociedade sobre os preconceitos, a discriminação em relação ao custodiado na sociedade.  Xavier lembra que a população carcerária da UCR Cametá é exclusivamente composta de cametaenses e futuramente, conquistando a liberdade, estarão de volta ao convívio social.

“Nós nos encontraremos com eles de forma diferente do que quando entraram no sistema penal. O objetivo principal, além da remição de pena, é a questão da ressocialização, da reintegração deles dentro da sociedade”, finalizou.

Texto de Márcio Sousa / Ascom Seap