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Uma molécula sintética desenvolvida em colaboração internacional pode abrir novas perspectivas para o enfrentamento da obesidade e de seus efeitos associados. Batizada de Pep19, ela mostrou resultados promissores em ensaios clínicos iniciais, reduzindo a gordura visceral e melhorando a qualidade do sono em adultos com excesso de peso. O estudo reúne pesquisadores do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington (PBRC) nos Estados Unidos, da Proteimax Biotechnology em Israel e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), com apoio da FAPESP.
A molécula é uma versão sintética de um peptídeo naturalmente produzido pelo organismo humano. Esse fragmento de proteína atua no sistema endocanabinoide, responsável por regular processos fundamentais como metabolismo energético, apetite e armazenamento de gordura. Em estudos anteriores com animais, Pep19 já havia demonstrado efeitos antiobesidade, incluindo melhora na glicemia, no colesterol e na pressão arterial, sempre sem os efeitos colaterais que costumam acompanhar medicamentos com mecanismos semelhantes.
Nos experimentos mais recentes, o foco foi avaliar como o peptídeo se comporta em humanos. Foram recrutados 24 voluntários, todos obesos, com idades entre 46 e 59 anos e índice de massa corpórea entre 30 e 35. Ao longo de 60 dias, eles participaram de um ensaio clínico triplo-cego, modelo de pesquisa considerado rigoroso por eliminar vieses: nem os pacientes, nem os médicos, nem os analistas sabiam quem recebia o composto ou placebo.
Os voluntários foram divididos em três grupos: um tomou cápsulas de placebo, outro recebeu 2 miligramas de Pep19 e o terceiro, 5 miligramas. A dose era administrada sempre à noite, antes de dormir. Após dois meses, foram avaliados parâmetros como composição corporal, marcadores bioquímicos, medidas físicas e qualidade de vida.
Os resultados chamaram a atenção. O grupo que recebeu 5 mg apresentou uma redução média de 17% na gordura visceral, tipo de tecido adiposo localizado no interior do abdômen e fortemente associado a doenças como diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares. Importante destacar: a perda ocorreu sem afetar a massa muscular, o que é raro em tratamentos farmacológicos.
Outro dado relevante foi a melhora na qualidade do sono, observada em todos os participantes que ingeriram o peptídeo. A relação não é casual: dormir mal favorece o ganho de peso e piora os efeitos da obesidade. O fato de um único composto atuar simultaneamente nesses dois pontos — acúmulo de gordura e descanso reparador — reforça seu potencial terapêutico.
Os pesquisadores também observaram que o Pep19 estimulou a transformação da chamada gordura branca, usada como reserva energética, em gordura marrom, que é metabolicamente ativa e gera calor ao queimar calorias. Esse mecanismo de “termogênese” é considerado uma das formas mais promissoras de acelerar o metabolismo sem sobrecarregar o organismo.
Para Emer Ferro, professor do Departamento de Farmacologia do ICB-USP e coordenador do Laboratório de Farmacologia dos Peptídeos Intracelulares, os resultados indicam que o composto pode se tornar um aliado valioso contra um dos maiores desafios de saúde pública global. Já a pesquisadora Andrea Heimann, da Proteimax, reforça que a ausência de efeitos adversos aumenta as chances de uso prático.
Ainda é cedo para falar em aplicação imediata. Estudos de maior escala e com duração mais longa serão necessários para confirmar a eficácia e segurança em diferentes perfis populacionais. Mas, diante do cenário atual — em que a obesidade cresce de forma epidêmica e as alternativas terapêuticas são limitadas — o Pep19 surge como uma promessa capaz de transformar abordagens médicas.
A combinação entre simplicidade de administração, impacto positivo no metabolismo e benefícios ao sono dá à molécula uma vantagem rara entre candidatos a medicamentos para obesidade. Se os próximos testes confirmarem os resultados, Pep19 poderá não apenas reduzir riscos de doenças crônicas, mas também ampliar a qualidade de vida de milhões de pessoas.
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