COP30

Pesquisa conecta ciência e saber indígena na Amazônia

O projeto Vozes da Amazônia Indígena, financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas – Fapespa, vem ganhando destaque por propor uma leitura aprofundada da sociobiodiversidade amazônica a partir da perspectiva de quem melhor compreende esse território: os povos indígenas. A iniciativa foi contemplada pela chamada Expedições Científicas da plataforma Amazônia +10, e reúne pesquisadores brasileiros e internacionais para investigar, de forma integrada, a diversidade biológica e cultural das áreas indígenas da Amazônia.

O estudo concentra-se em três regiões emblemáticas, tanto pela riqueza ambiental quanto pela complexidade histórica e cultural: o Alto Rio Negro, no Amazonas; a Terra Indígena Alto Xingu, no Mato Grosso; e a Terra Indígena Kayapó, no Pará. Cada uma delas carrega um acúmulo milenar de conhecimentos etnobiológicos, expressos em técnicas de manejo, linguagens, espiritualidades, artefatos, territórios sagrados e modos de vida que se entrelaçam profundamente com a floresta.

A pesquisa é coordenada no Pará pela arqueóloga Helena Pinto Lima, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), com apoio do CNPq e das fundações estaduais de amparo à pesquisa (FAPs). O grupo de cientistas envolvidos reúne nomes como Filippo Stampanoni Basi, do Museu da Amazônia (MUSA); Jennifer Watling, da Universidade de São Paulo; Bruna Franchetto, do Museu Nacional/UFRJ; Thiago Chacón, da Universidade de Brasília; e Manuel Arroyo-Kalin, da University College London.

A participação de Helena Lima na COP30, durante o painel promovido pela iniciativa Amazônia +10, reforçou o papel fundamental da ciência colaborativa na região. O encontro reuniu também o presidente da Fapespa, Marcel Botelho, e representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Grupo BID), que discutiram resultados coletivos das chamadas de fomento à pesquisa na Amazônia.

Foto: Divulgação – Ag. Pará

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Ao longo do primeiro ano de execução, o projeto desenvolve ações que integram metodologias científicas e conhecimentos tradicionais: inventários biológicos em áreas pouco estudadas, mapeamentos participativos com sensoriamento remoto, registros de transformações ambientais e rodas de saberes com as comunidades indígenas. A longo prazo, pretende produzir documentação etnográfica, linguística e sociocultural construída de forma colaborativa, além de análises taxonômicas, descrições de novas espécies e estudos genéticos que ajudem a preencher lacunas históricas do conhecimento científico sobre a Amazônia Legal.

A arqueóloga destaca que a força da iniciativa reside na construção de uma ponte entre diferentes formas de produzir conhecimento. Para ela, os povos da floresta não apenas conhecem profundamente seus territórios – eles moldaram e foram moldados por eles ao longo de milhares de anos. Suas práticas de manejo, tecnologias tradicionais e modos de interpretação do ambiente contêm informações essenciais para enfrentar desafios contemporâneos, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e pressão sobre recursos naturais.

Esse diálogo intercientífico permite que a pesquisa avance para além da coleta de dados biológicos e culturais. Ele coloca em perspectiva o papel dos povos indígenas como cocriadores da própria floresta – agentes que desenvolveram, adaptaram e transmitiram técnicas de cultivo, proteção e uso sustentável dos ecossistemas amazônicos. A proposta, portanto, não é somente registrar histórias passadas, mas ativar esse conhecimento em busca de soluções futuras.

A iniciativa Amazônia +10, responsável por financiar esse e outros estudos estratégicos, mobilizou 19 fundações de amparo à pesquisa, o CNPq e quatro agências internacionais – British Council, UK Research and Innovation, Swiss National Science Foundation, e o centro alemão BayLat. Foram 22 projetos selecionados, mais de 1.400 pesquisadores envolvidos e investimentos que ultrapassam R$ 76 milhões.

Ao propor uma leitura da sociobiodiversidade em larga escala e sob múltiplas temporalidades, o projeto Vozes da Amazônia Indígena aponta para uma conclusão fundamental: a solução para muitos dos desafios amazônicos já existe, e está viva na memória, na prática cotidiana e na história profunda dos povos indígenas. Recuperá-la, fortalecê-la e conectá-la com a ciência contemporânea é um dos caminhos mais promissores para garantir o futuro da floresta e o bem-estar das comunidades que nela habitam.

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