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Ciência e conhecimento ancestral no processo de ensino-aprendizagem

Alunos dos cursos de arquitetura e urbanismo e de engenharia civil do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia –UNIFAMAZ – realizam pesquisa científica que visa criar uma proposta de jardim com horta de espécies comestíveis, ornamentais e medicinais na Escola Estadual Alexandre Zacharias de Assunção, no bairro do Guamá, periferia de Belém.

A iniciativa, coordenada pela professora mestra engenheira e matemática Valéria Quemel busca verificar os benefícios sociais a partir da elaboração de uma proposta de paisagismo, contemplando arborização de pequeno porte e plantio de espécies ornamentais e bioativas – estas conhecidas popularmente como plantas medicinais. Contando com uma equipe de pesquisadores de várias áreas, como arquitetura e urbanismo, engenharia civil e administração, a docente assegura que o objetivo é “identificar as necessidades de paisagismo e cobertura vegetal da instituição, integrando o paisagismo e o plantio de plantas medicinais como estratégia de educação ambiental, incentivando a iniciação científica de discentes do UNIFAMAZ, como forma de propiciar o ensino, a pesquisa e a extensão, além de promover o bem-estar da comunidade escolar que frequenta a instituição que receberá o projeto” a docente.

O resultado, garante ela, será uma área de convívio onde os alunos possam ter momentos de interação com a natureza.

Segundo a ela, a metodologia contemplou a realização de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, além de levantamento do entorno da instituição de ensino no Guamá, assim como pesquisa de campo com vistoria das áreas livres da escola, a fim de identificar o melhor local para implantação do jardim. Os pesquisadores também fizeram visitas a alguns órgãos públicos como a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) e o Horto Municipal de Belém. “Os dados levantados apontaram para a escola Alexandre Zacharias de Assunção”, afirma Quemel, “por conta da necessidade de apoio para inclusão de iniciativas como esta no local”, pontua a coordenadora da pesquisa.

Com o jardim, a comunidade passa a “absorver o entendimento da educação ambiental, mas também contando com um espaço harmônico, esteticamente agradável e propício ao convívio da comunidade escolar”, conclui.

Ao final, os dados técnicos do projeto serão entregues à direção, a quem compete solicitar à Secretaria de Estado de Educação sua execução, já que a pesquisa não dispõe de recursos financeiros para sua construção.

Sobre o uso de plantas ornamentais e bioativas em ambiente escolar.

O emprego de plantas nos ambientes se justifica pelos efeitos positivos no bem-estar humano que elas podem proporcionar, com a liberação de oxigênio, a redução da temperatura ambiente, absorção de dióxido de carbono, e impedem o fenômeno conhecido como albedo, que é a reflexão de raios solares a partir de superfícies de cores claras. Além disso, a contemplação da natureza ou o contato com elementos que remetem a ela contribui para reduzir a agitação humana e produzir frequências mais adequadas no coração e na atividade cerebral.

Outro ponto positivo será a interação com a comunidade escolar, contribuindo significativamente para o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que promove a consciência coletiva quanto a preservação do meio ambiente no âmbito da 30ª Conferência das Nações Unidas Para as Mudanças Climáticas – COP 30, que acontecerá na capital paraense em novembro deste ano. A própria instituição já dispõe de um biodigestor, onde é produzido gás metano que é utilizado em sua cozinha. E a Revista Pará+, por meio de seu editor-chefe, Rodrigo Rhün, é incentivadora da pesquisa, uma vez que Rhün é um dos maiores importadores de biodigestores israelenses para o Brasil, e visa difundir e reforçar esse modelo natural também em Belém.

Para a professora doutora Liane Brito, coordenadora do curso de arquitetura e urbanismo do UNIFAMAZ, “um projeto de paisagismo é importante para criar espaços que se tornam esteticamente mais agradáveis e funcionais”, pontua, “criando a relação biofílica que se espera com a introdução de elementos naturais à edificação”. E em uma escola pública, prossegue, “o paisagismo pode melhorar o ambiente, o bem-estar e a aprendizagem dos alunos, além de valorizar a instituição e promover a educação ambiental”, conclui Brito.

Para a aluna Bárbara Helena, única integrante da pesquisa que é discente do curso de engenharia civil, “o projeto de iniciação científica surgiu da inquietação e necessidade de contribuir mediante a elaboração de uma proposta de paisagismo funcional em uma unidade de saúde onde há uma área degradada e inutilizada que poderia ser aproveitada para esse fim”, mas que, sentencia Helena, “por questões burocráticas, ficou inviabilizada.”

A proposta foi elaborada a partir de visitas a escola estadual Alexandre Zacharias de Assunção, com irrestrito apoio de sua direção, para a elaboração da proposta de um projeto de paisagismo funcional onde os alunos de arquitetura e urbanismo e de engenharia civil do UNIFAMAZ criaram um croquis das áreas com a definição dos espaços que foram criteriosamente a partir de estudos de carta solar – que é um instrumento importantíssimo na concepção arquitetônica, pois define a melhor posição da edificação em relação ao sol, determinando a melhor funcionalidade, proporcionando o clima mais agradável em cada ambiente interior e exterior do imóvel.

A proposta de um projeto de paisagismo funcional demonstra-se relevante na escola escolhida, onde já se tem espaços ociosos que podem ser aproveitados para fins de paisagismo. Além disso, tornar o ambiente mais agradável, ameno, é uma maneira de proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos alunos, professores e demais funcionários, assim como para quem visita a instituição, o que também comtempla a comunidade em seu entorno.

Para a fundamentação científica da pesquisa foram levados em conta alguns conceitos básicos de paisagismo funcional, que se caracteriza pelo cultivo de espécies ornamentais ou não, integrando diferentes tipos de plantas, sejam de uso alimentar, ornamental, aromático ou bioativas, popularmente conhecidas como plantas medicinais, que vegetais que dispõem da propriedade de produzir ações medicamentosas sobre outros seres vivos e cujo efeito pode manifestar-se pela sua presença em um ambiente ou pelo uso direto de substâncias delas extraídas.

Sarah Assunção, odontóloga atuante na área, que também é aluna do curso de arquitetura e urbanismo e integrante da pesquisa, oriunda do município de Castanhal, Nordeste do Pará, afirmou que escolheu a odontologia “ainda muito nova, por achar uma profissão bonita”, mas que nunca se sentiu satisfeita na área, assegurou a pesquisadora. “A partir do momento em que minha família comprou o nosso apartamento comecei a me envolver com o projeto de interiores do imóvel”, continua, “e passei a ter, com isso, mais contato com a arquiteta responsável pelo projeto”, finaliza. Ela ainda confidenciou que chegou a faltar aulas, sem o conhecimento dos pais, para poder acompanhar os trabalhos na nova residência

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A partir da pandemia, a, até então, odontóloga, decidiu que “não iria viver o que não queria”, mudando radicalmente de atuação, matriculando-se no curso de arquitetura e urbanismo para, segundo ela, “fazer o que sabia que gostava”, embora, confessa, essa mudança tenha sido bem difícil e exaustiva, já que tem que trabalhar, estudar, e correr contra o tempo, onde se lhe impõe o choque de lidar com mundos acadêmicos diferentes.

Para ela o uso plantas medicinais sempre fizeram parte da área de saúde, e isso lhe “permite ter uma visão mais sensível e multidisciplinar, inclusive ao desmistificar certos exageros ou mitos em relação ao bem-estar proporcionado pelo uso de espécies bioativas”, finaliza.

Em alguns momentos, a equipe precisou recorrer ao método de história oral como ferramenta de pesquisa, considerando a vivência da comunidade escolar como ponto de partida para todos os levantamentos que embasaram a pesquisa que contou com elaboração de questionário eletrônico, pesquisa de campo envolvendo representantes da direção, levantamento de dados topográficos, traçado preliminar de layout, identificação de pontos críticos de acessibilidade e mobilidade, verificação do estado da pavimentação atual e topografia, finalizando com a definição do plano de paisagismo, entre outras tarefas.

Para o diretor da instituição, professor doutor Adriano Mesquita, “a importância do projeto está em proporcionar melhor estética do ambiente escolar e qualidade de vida aos nossos alunos, visitantes e funcionários”, além disso, continua o docente, “as expectativas são que esse projeto possa ser aplicado por nossa gestão e contribuir para viabilizar um ambiente mais confortável, e que garanta bem-estar a todos que dele usufruem”.

Espaços analisados pelos pesquisadores a fim de decidir qual deles seria mais adequado à implantação do projeto

Análise das espécies compatíveis com o projeto

Várias pesquisas realizadas, individualmente, por cada integrante da equipe, apontaram como uma horta inserida no ambiente escolar pode ser um laboratório vivo que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação ambiental e alimentar, unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem e estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperativo. Com base nisso, os pesquisadores debruçaram-se sobre o estudo específico de cada espécie, a fim de entender sua relevância ao projeto de pesquisa, dentre elas a “Espada de São Jorge”, cujo nome científico é Sansevieria trifasciata, que é uma planta capaz de crescer em uma grande variedade de exposições ao sol (de áreas abertas ensolaradas completas a áreas sombreadas parciais). Além disso, essa espécie é tolerante à seca e ao calor.

Outras espécies consideradas na implantação deste projeto de jardim funcional estão relacionadas ao clima amazônico, sendo nativas ou exóticas. Temos, por exemplo, algumas espécies que devem ser inseridas na proposta de paisagismo funcional, quais sejam: Espada de São Jorge, acerola, coentro, hortelã, alecrim, chicória, alface, rúcula, boldo, canapu, acerola entre outras.

O projeto de jardim funcional concebido

Para a professora mestra engenheira e matemática Valéria Quemel, coordenadora da pesquisa, o desafio maior será a execução/construção do projeto que somente pode ser realizado por meio da Secretaria de Estado de Educação – SEDUC, mas destacou que “o empenho dos pesquisadores foi fundamental ao melhor resultado da iniciativa”, que o leitor pode conferir nas imagens abaixo.

Equipe da pesquisa

Profa. Ma. Valéria Quemel – Coordenadora; Profa. Ma. Márcia Quemel – Pesquisadora voluntária  Arquiteto André Castilho – Assessor técnico; Bárbara Helena – Pesquisadora voluntária; Camila Silva – Pesquisadora voluntária; Gustavo Gonçalves – Pesquisador voluntário; Sandro Destro Lima – Pesquisador voluntário e Sarah Assunção – Pesquisadora voluntária

admin

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