Borboleta-coruja
Entre as trilhas úmidas da floresta, uma criatura silenciosa se destaca: grande, discreta e surpreendente. Estamos falando da borboleta-coruja, um dos insetos mais curiosos da fauna brasileira. Apesar do nome simpático, ela esconde truques de sobrevivência dignos de um mestre da camuflagem — e hábitos alimentares que desafiam a lógica. Se você pensava que toda borboleta gosta de flores, prepare-se para mudar de ideia.
A característica mais famosa da borboleta-coruja (Caligo sp.) está nas asas traseiras. Quando fechadas, elas exibem dois grandes círculos escuros que se assemelham a olhos de coruja — ou, para muitos predadores, de cobra. Esse truque visual serve para afugentar aves, que ao verem o “olhar” ameaçador hesitam ou desistem do ataque. É o mimetismo em sua forma mais engenhosa.
Diferente da maioria das borboletas, a borboleta-coruja é crepuscular. Ou seja, prefere sair no fim da tarde e início da noite. Isso a ajuda a escapar dos predadores diurnos e, ao mesmo tempo, explorar uma faixa de horário com menos competição. Seu voo lento e pesado não favorece fugas rápidas, por isso, cada detalhe da rotina ajuda na sua sobrevivência.
Essa curiosidade surpreende muita gente: a borboleta-coruja não se alimenta de néctar como a maioria das suas primas. Em vez disso, ela prefere frutas maduras, muitas vezes em estado de fermentação. Banana, manga, mamão — quanto mais “passada”, melhor. Essa preferência é explicada pelo tipo de aparelho bucal que possui, adaptado para sugar líquidos densos e cheios de energia.
A borboleta-coruja habita florestas tropicais e subtropicais, desde o México até o Sul do Brasil. Aqui no país, é encontrada com frequência na Mata Atlântica, na Amazônia e até em reservas urbanas com vegetação densa e sombra. Seu ambiente ideal é úmido, escuro e com vegetação abundante, o que favorece tanto a alimentação quanto a camuflagem.
Entre as borboletas brasileiras, a borboleta-coruja está entre as maiores. Suas asas abertas podem ultrapassar os 20 centímetros de envergadura, o que a torna visível mesmo à distância. No entanto, seu padrão de cores é discreto, em tons terrosos e azulados, o que ajuda a se esconder no meio da mata.
Se comparada a outras espécies mais ágeis, a borboleta-coruja voa devagar e com pouca precisão. Isso a deixaria vulnerável — não fosse o seu incrível disfarce visual. Ao simular os olhos de um predador perigoso, ela não precisa correr: basta abrir as asas no momento certo e deixar a ilusão fazer o trabalho.
Por seu tamanho, beleza e comportamento curioso, a borboleta-coruja é uma estrela em espaços como o Parque das Aves (PR), o Jardim Botânico de São Paulo e outros borboletários do Brasil. Lá, é possível vê-la de perto, entender seu ciclo de vida e até acompanhar sua alimentação com frutas fermentadas. Uma experiência educativa para todas as idades.
O padrão das asas da borboleta-coruja é tão impactante que ultrapassou os limites da biologia. Estilistas já usaram o “olho de coruja” como estampa em tecidos e acessórios. Tatuadores transformaram o desenho em arte corporal com significado ligado à proteção, intuição e camuflagem emocional. Até em obras de arte naturalistas, essa borboleta tem lugar garantido.
A borboleta-coruja é um lembrete vivo de que a natureza nunca para de surpreender. Em vez de flores perfumadas, ela prefere frutas fermentadas. Em vez de força ou velocidade, aposta em truques visuais refinados. E no lugar do brilho das cores, carrega a beleza silenciosa da adaptação. Encontrá-la é como cruzar com um segredo bem guardado da floresta — e quem tem a sorte de vê-la, dificilmente esquece.
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