Belém se transformou, nos primeiros dias de outubro, em um grande laboratório de preparação para emergências. Em meio à expectativa para o Círio de Nazaré e para a COP30, mais de 300 profissionais de saúde, segurança e defesa civil participaram de um treinamento de alto nível que simulou um acidente com múltiplas vítimas. O exercício, conduzido pelo Ministério da Saúde e pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), reuniu equipes locais e nacionais para testar protocolos e fortalecer a capacidade de resposta em situações críticas.
A ação ocorreu entre os dias 1º e 3 de outubro, em parceria com a Força Nacional do SUS (FN-SUS), e teve como ápice a encenação de um grave acidente na Aldeia Cabana, em Belém. O cenário simulado envolveu a colisão entre um carro e um micro-ônibus, resultando em 16 vítimas fictícias — quatro em estado crítico, cinco graves, cinco com ferimentos leves e três óbitos. Cada detalhe foi planejado para reproduzir a complexidade de uma tragédia real.
Na prática, o exercício mobilizou diferentes frentes: a Polícia Militar do Pará isolou a área, o Corpo de Bombeiros Militar controlou o incêndio e realizou o resgate inicial, enquanto o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) coordenou a triagem médica junto à Cruz Vermelha. Houve ainda transporte aeromédico, perícia conduzida pela Polícia Científica e regulação em tempo real dos atendimentos hospitalares.
Para a secretária de Saúde do Pará, Ivete Vaz, o treinamento representou um divisor de águas: “O exercício mostrou que conseguimos unir forças locais e nacionais em um mesmo fluxo de resposta. Isso significa mais segurança para a população diante de emergências reais, mas também confiança na organização do Estado para eventos globais como a COP30.”
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O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou que a simulação segue padrões internacionais, incluindo protocolos da Interpol e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele lembrou que o Governo Federal já destinou R$ 100 milhões à rede de saúde de Belém e anunciou novo investimento de R$ 240 milhões, em parceria com o Estado, para ampliar serviços de alta complexidade, como o tratamento do câncer. “O Pará sai na frente como modelo de preparação para grandes eventos, com avaliação de nota máxima feita pela ONU e pela OMS”, afirmou.
O coordenador da FN-SUS, Rodrigo Stabeli, reforçou o caráter estratégico do treinamento: “A experiência de Belém vai além da simulação. É também uma prova de compromisso com a população, seja para o Círio, seja para a COP30. Trouxemos nossas especialidades para somar às competências locais e construir um modelo de referência internacional.”
A presença de representantes da saúde indígena também deu dimensão ampliada ao evento. O médico voluntário Idjarrury Sompre destacou a importância de levar esse aprendizado a territórios vulneráveis: “Quando enfrentamos surtos ou emergências em nossas comunidades, é essencial ter acesso a esse tipo de conhecimento. Essa preparação fortalece nossa capacidade de resposta e garante proteção a populações historicamente mais expostas.”
O exercício em Belém integra um ciclo nacional de treinamentos promovido pela Força Nacional do SUS em diferentes capitais brasileiras. No Pará, além de ensaiar protocolos diante de um cenário de desastre, a ação consolidou a integração entre Estado, Município e União. Para além de um evento técnico, o simulado se apresentou como um gesto simbólico: a confirmação de que a saúde pública e os serviços de emergência locais estão prontos para proteger a população em celebrações religiosas de grande magnitude e em uma conferência climática que atrairá olhares do mundo inteiro.